Início » Sem categoria » The Witcher 4 segue sem novo Sapkowski – e isso não é um desastre

The Witcher 4 segue sem novo Sapkowski – e isso não é um desastre

por ytools
1 comentário 3 visualizações

CD Projekt Red está tocando o próximo The Witcher sem material inédito de Andrzej Sapkowski – e isso, por si só, não é motivo para soar o alarme. Em uma aparição recente para divulgar Crossroads of Ravens, o escritor polonês confirmou que não foi chamado a contribuir com novas ideias para o que muita gente chama informalmente de The Witcher 4. Ele comentou ainda que a CDPR raramente pede esclarecimentos hoje em dia. No passado, lá nos primeiros jogos, a equipe às vezes recorria a ele para validar um fio de lore. O processo, porém, amadureceu.

Importante: a relação é boa. Segundo o autor, os contratos atuais são “excelentes”, algo significativo depois de uma história bem conhecida: no fim dos anos 1990, ele preferiu um pagamento único em vez de participação nos lucros; em 2018, seu representante cobrou royalties adicionais; e, em 2019, veio um acordo amigável.
The Witcher 4 segue sem novo Sapkowski – e isso não é um desastre
De lá para cá, o arranjo ficou claro: o estúdio tem independência criativa, e os livros seguem como base canônica.

O que significa “sem novo Sapkowski” na prática

A CDPR nunca fez transcrição literal. Sempre adaptou. Os jogos expandem e reorganizam o material literário, criam missões e personagens próprios, deslocam os holofotes – mas preservam o sabor da sátira sombria de Sapkowski: a ironia seca, a ambiguidade moral, a ecologia de monstros que reflete problemas humanos. A fala do autor só cristaliza o método: a equipe vai minerar o que já existe – inclusive sinais de Crossroads of Ravens, que funciona como olhar prévio para os primeiros passos de Geralt – sem encomendar cenas ou notas inéditas.

Daí nasce a dúvida recorrente do fandom: o lore será dobrado por conveniência? A experiência indica que o estúdio costuma “colorir dentro das linhas” no que importa. The Witcher 3 não é cópia de capítulo algum, mas respira Sapkowski no jeitão: contratos que começam simples e terminam espinhosos, escolhas que cobram preço, vilas que cheiram a lama e fumaça depois da chuva. Onde a CDPR costuma ousar é no enquadramento – quem conduz a câmera, como a agência do jogador entra na equação e em que ritmo as revelações chegam.

Ciri no centro do debate – de novo, com motivo

É inevitável que se discuta o papel de Ciri. Uma parte da audiência torce o nariz para qualquer sinal de “Geralt feminino”, como se a personagem precisasse virar uma cópia de bruxo para importar. Convém separar camadas. No cânone, não há “bruxas-caçadoras de monstros” formadas pelas provas e mutações dos bruxos, e Ciri não passou pelo ritual completo; seus poderes e seu destino são de outra natureza. Na narrativa, porém, ela sempre foi central – a Criança do Sangue Antigo cujas decisões repercutem por mundos. Jogadores de TW3 sabem: muitos desfechos gravitam em torno do crescimento de Ciri, não da glória de Geralt.

Isso é “lacração”? Só se o design falhar. O desafio criativo real é expressar as forças e fragilidades específicas de Ciri em sistemas, missões e companhias: mobilidade, dom de transgressão entre espaços, traumas, humor, ética. Dá para fazer isso sem achatá-la num “espadachim com skin”. Em paralelo, o ofício de bruxo não pode virar mero cenário: escolas, contratos, poções, óleos, botes de sinal, bestiário, barganha – tudo precisa continuar funcionando como mecânica, economia e moral do mundo.

Confiança com cicatrizes: o que a CDPR precisa provar

O estúdio carrega dois retratos na parede. De um lado, o brilho de Blood & Wine e de linhas de missão lembradas por anos. Do outro, o lançamento cambaleante de Cyberpunk 2077 e a longa reabilitação. Por isso, o próximo Witcher vale tanto quanto termômetro de maturidade quanto de imaginação. A ausência de novo texto de Sapkowski só joga mais luz sobre o trabalho interno de roteiristas, designers de quests e editores: manter a textura do Continente – contratos que se desdobram em dilemas, monstros que funcionam como espelhos, humor que corta, escolhas que doem.

Crossroads of Ravens também oferece um compasso tonal útil, mesmo sem citações diretas: primeiras caçadas são sujas, reputações quebram fácil, e conhecimento é a moeda real. Isso casa com progressão menos focada em número bruto e mais na gramática do mundo: entender hábitos das criaturas, cozinhar combinações de alquimia, negociar com gente desconfiada, ler pistas em campos e tavernas.

Então, há motivo para se preocupar?

Cautela é saudável; fatalismo, não. Os fatos são objetivos: Sapkowski não está escrevendo nada novo para o próximo Witcher; juridicamente, o terreno é estável; os livros continuam sendo a espinha dorsal; e a CDPR seguirá no modelo “adaptação + invenção”. O que fica em aberto é puramente criativo: quem ancora a história, como o poder se traduz em jogabilidade, e onde se traça a fronteira entre respeito ao lore e surpresa – o elemento que mantém um RPG vivo.

Se o estúdio se apoiar nos seus melhores hábitos – quests com farpas morais, monstros que servem ao tema, e zero vontade de varrer consequências para debaixo do tapete – a falta de notas inéditas do autor não será o fator decisivo. O Continente sempre foi maior do que qualquer bruxo. Cabe à CDPR mostrar, mais uma vez, que sabe nos guiar por ele até que “só mais uma missãozinha” vire a noite inteira.

Você também pode gostar de

1 comentário

tilt November 15, 2025 - 11:44 am

Paguem o autor, respeitem os livros e lancem polido. Aí tá tudo certo

Responder

Deixe um comentário