Os teclados sem fio realmente não servem para jogos?

Os teclados sem fio conquistaram espaço nos escritórios e nas casas pelo visual limpo e pela praticidade de não depender de cabos. No entanto, dentro do universo gamer ainda existe certa desconfiança: muitos jogadores defendem que, em partidas competitivas, apenas o teclado com fio garante a velocidade necessária. Mas será que essa visão faz sentido hoje, diante das novas tecnologias? Vamos analisar em detalhes.

Por que a latência é tão importante nos jogos

Em jogos competitivos, especialmente em shooters, MOBAs ou simuladores de corrida, cada milissegundo pode definir vitória ou derrota.

A latência é o tempo que leva entre apertar uma tecla e o computador reconhecer a ação. Para escrever um texto, essa diferença é irrelevante. Mas em um duelo online, pode significar não conseguir atirar a tempo ou perder a chance de escapar de um ataque.

Testes realizados pelo site Rtings mostram que os teclados mecânicos mais rápidos chegam a 0,4 ms de tempo de resposta. Em geral, atrasos de até 10 ms passam despercebidos pela maioria dos jogadores. Mas acima de 15 ms, quem tem mais experiência já começa a sentir o impacto. É justamente por isso que a discussão sobre teclados sem fio x teclados com fio continua tão acirrada.

Como funciona a comunicação do teclado com o PC

O tempo de resposta depende do tipo de switch usado e da forma de conexão. Os teclados com fio têm a vantagem de se conectar diretamente via USB, sem risco de interferências. Mesmo a porta USB 2.0, considerada antiga, pode atingir até 8000 Hz de taxa de polling – ou seja, até 8000 envios de dados por segundo. Na prática, a maioria dos modelos funciona em 1000 Hz, considerado padrão ouro para o público gamer. Modelos mais avançados, como o Corsair K100 RGB, chegam a 8000 Hz, embora essa diferença raramente seja perceptível, já que a maioria dos jogos não processa comandos a essa velocidade.

Teclados sem fio: rádio (RF) x Bluetooth

No mercado, os teclados sem fio se dividem basicamente em dois grupos: os que utilizam conexão por rádio (com dongle USB) e os que funcionam via Bluetooth.

Conexão por rádio (RF): Essa é a opção pensada para gamers. Modelos de ponta entregam desempenho praticamente idêntico ao dos teclados com fio. O Razer BlackWidow V3 Mini HyperSpeed, por exemplo, trabalha com taxa de polling de 1000 Hz. O Asus ROG Falchion, em testes, mostrou tempo de resposta de 3,7 ms – resultado excelente até para jogadores exigentes.

Bluetooth: Nesse caso, a história é outra. O limite máximo é de 125 Hz, o que eleva a latência para cerca de 8 ms. Em modos de economia de energia, pode ser ainda pior. Para digitação, navegação ou jogos casuais, é suficiente. Mas em FPS online ou corridas, essa diferença pode comprometer a performance. Não é à toa que Bluetooth tem fama negativa no meio gamer.

Os pontos fracos do sem fio

Mesmo os teclados RF podem sofrer com algumas limitações. A distância entre teclado e receptor é uma delas: quanto maior, maior a chance de perda de pacotes e atraso no comando. Além disso, outros dispositivos sem fio – roteadores, mouses, caixas de som – podem gerar interferências. Em modelos premium, a tecnologia é mais robusta e raramente isso acontece, mas não deixa de ser um risco.

O que considerar na hora da escolha

Se você joga casualmente ou prefere títulos single-player, praticamente qualquer teclado cumpre bem a função. Mas se o seu foco é competitivo, vale ficar atento à taxa de polling e ao tempo de resposta. Teclados voltados para escritório raramente informam esses dados técnicos, enquanto marcas focadas em jogos – como Razer, Corsair, Logitech e Asus ROG – destacam esses números nas especificações.

Afinal, sem fio serve para jogar?

Dizer que teclados sem fio não servem para games é uma visão ultrapassada. Os modelos RF modernos estão no mesmo nível dos com fio em termos de velocidade e precisão. O problema continua sendo o Bluetooth, que de fato não é indicado para quem busca o máximo desempenho. Foi justamente ele que criou o estigma de que “sem fio = atraso”.

Ainda assim, em campeonatos e torneios profissionais, o padrão segue sendo o teclado com fio, já que elimina qualquer margem de risco. Para a grande maioria dos jogadores, no entanto, um bom teclado sem fio com conexão RF já garante uma experiência de jogo tão rápida quanto a de um modelo com fio.

Conclusão

Os teclados sem fio evoluíram de forma impressionante. O que antes era visto apenas como conveniência para uso doméstico agora se tornou uma solução viável até para jogadores competitivos. Hoje, a escolha depende mais do perfil de cada um: prefere a segurança absoluta de um cabo ou a liberdade e a organização que um setup sem fios proporciona? De qualquer forma, a performance não é mais um obstáculo.