
A disputa judicial entre Sony e Tencent por causa de Light of Motiram entrou numa fase de pausa tensa: o jogo está com a divulgação congelada, o lançamento não pode ser adiantado e o próximo grande passo só acontece em janeiro de 2026, em um tribunal da Califórnia.
Tudo começou quando a Tencent mostrou pela primeira vez Light of Motiram. Bastou o trailer circular por redes sociais e fóruns para chover comparação com a série Horizon, da PlayStation. Robôs em forma de animais, aquele clima de futuro arrasado misturado com cultura tribal, heroína caçadora de cabelo marcante e arco na mão: para muita gente parecia menos um jogo inspirado e mais um irmão não oficial das aventuras de Aloy.
Sony Interactive Entertainment decidiu que não dava para tratar o assunto apenas como conversa de internet. A empresa entrou com um processo contra as empresas ligadas à Tencent, acusando Light of Motiram de ser um “clone servil” de Horizon. No centro da briga estão o visual do mundo, o estilo das máquinas, a construção da protagonista e o jeito como a história é apresentada. Em um mercado lotado de mundos abertos parecidos, esse caso virou rapidamente um teste de limite: até onde vai a “inspiração” antes de virar cópia?
De lá para cá, o processo avançou alguns degraus e agora chegou a uma etapa mais lenta, porém decisiva. De acordo com os documentos recentes, Sony e Tencent pediram juntas ao tribunal do Distrito Norte da Califórnia para estender o calendário de prazos e marcar no mesmo dia duas discussões centrais: o pedido da Tencent para derrubar o processo e a tentativa da Sony de conseguir uma liminar, ou seja, um bloqueio provisório que restringe oficialmente o que pode ser feito com o jogo enquanto a briga continua.
Esse acordo de calendário veio acompanhado de condições pesadas para a Tencent. A empresa aceitou não fazer nenhuma nova campanha de marketing para Light of Motiram durante a fase da liminar. Nada de trailer novo para animar a comunidade, nada de teste público, demo surpresa ou beta fechado para influenciador. As partes também registraram que essa extensão de prazo não poderá ser usada depois para acusar a Sony de “demora” ao pedir a liminar, fechando de antemão uma brecha jurídica comum.
Outro ponto sensível é o quando. Nos documentos, a Tencent se compromete a não antecipar o lançamento do jogo para nenhuma data anterior ao já anunciado quarto trimestre de 2027. Em outras palavras, está afastado o risco de um lançamento relâmpago do tipo “publica agora, discute depois no tribunal”. Além disso, a Tencent concordou em não pedir um ritmo acelerado de coleta de provas ligado especificamente ao pedido de liminar, o que evita que essa fase inicial vire um mini julgamento caótico cheio de intimações e prazos apertados.
Com isso, todas as atenções se voltam para uma única data: 29 de janeiro de 2026. Nesse dia, o juiz vai ouvir, na mesma audiência, os argumentos da Tencent para encerrar o caso e o pedido da Sony para impor a liminar contra Light of Motiram. Antes disso, o cronograma prevê que a Tencent apresente sua resposta ao pedido de liminar em 17 de dezembro de 2025, e que a Sony devolva com um novo documento em 2 de janeiro de 2026. Ao concentrar tudo em uma só sessão, o tribunal ganha uma visão mais completa do conflito em vez de lidar com pedaços soltos em meses diferentes.
Por trás da linguagem jurídica, o recado é claro: nenhuma das duas gigantes parece interessada em travar uma guerra interminável. Os arquivos já registram que Sony e Tencent vêm mantendo conversas para tentar um acordo. Isso não garante um final amigável, mas deixa no ar possibilidades bem concretas: desde licenciamento oficial e mudanças profundas em personagens e cenário até compensações financeiras e limitações territoriais de lançamento. Tudo isso, se acontecer, deve ser resolvido nos bastidores e só aparecer para o público na forma de um comunicado enxuto e cuidadoso.
Enquanto isso, a comunidade gamer faz aquilo que sabe melhor: discute. Uma parte dos jogadores é totalmente pragmática e diz que, se o jogo for divertido, pouco importa se lembra demais Horizon. Para esse público, um “Horizon cooperativo feito pela Tencent” não soa como problema, e sim como oportunidade. Aparecem até comentários bem diretos, no estilo “não tô nem aí se a protagonista é cópia da Aloy, desde que seja bonita e o jogo entregue ação, porque no fim das contas sex sells”.
Do outro lado, há quem veja o caso como linha vermelha. Para esses jogadores, não é só questão de ter robo-dinossauro, arco e ruínas de futuro. O que incomoda é a sensação de que um projeto que poderia ter nascido como spin-off oficial de Horizon teria mudado de bandeira no meio do caminho, reaproveitando ideias, estética e até enquadramentos de câmera com apenas uma camada de tinta nova por cima. Nessa leitura, permitir o lançamento de Light of Motiram sem mudanças seria abrir um precedente perigoso para qualquer franquia grande.
Para a Sony, a disputa vai muito além de orgulho criativo. Horizon cresceu de aposta em nova IP para franquia de vitrine do PlayStation, com sequências, versões para PC e planos de expansão para outras mídias. Deixar passar um projeto que, na visão da empresa, encosta demais na sua identidade visual e no seu universo pode enfraquecer a posição da Sony na hora de proteger outras marcas no futuro, seja em novo processo judicial, seja em negociações discretas com parceiros e concorrentes.
Já para a Tencent, o risco está em outra frente. O grupo vem investindo pesado em produções pensadas desde o início para o público global, e Light of Motiram claramente mira a mesma audiência que se apaixonou por Aloy: fãs de mundos abertos gigantes, combates vistosos e mistura de natureza com tecnologia. Aceitar congelar marketing, abrir mão de adiantar o lançamento e viver até 2027 com o jogo em banho-maria é um preço alto num setor em que visibilidade constante vale quase tanto quanto o próprio produto.
Na prática, para o jogador comum, os próximos meses devem ser de silêncio. Não espere enxurrada de trailers novos nem vazamento de gameplay de teste: se tudo correr dentro do combinado, Light of Motiram continua sendo aquele jogo sobre o qual todo mundo tem opinião, mas quase ninguém viu em ação de verdade. A grande novidade, por um bom tempo, serão apenas novas páginas de processo e análises sobre quem está “ganhando” a guerra de bastidores.
Seja qual for o desfecho, o caso Sony versus Tencent tem tudo para virar referência sempre que alguém acusar um jogo de ser “clone sem vergonha” de outro. Com orçamentos cada vez maiores e empresas apostando em fórmulas já consagradas, a linha entre homenagem e plágio fica mais fina a cada ano. A forma como a Justiça americana vai enxergar Light of Motiram em comparação com Horizon deve definir quanta liberdade os estúdios realmente têm quando querem surfar numa ideia que o público já conhece, mas sem pagar o preço da originalidade.