Hollow Knight: Silksong finalmente chegou e, além do sucesso imediato entre os fãs, gerou uma grande discussão na indústria de games. O motivo? Seu preço: apenas 20 dólares. 
Para os jogadores, isso parece um presente; para muitos desenvolvedores independentes, no entanto, pode se tornar uma armadilha que pressiona os preços do mercado de forma insustentável.
Do ponto de vista do consumidor, pagar 20 dólares por um jogo longo, refinado e altamente aguardado é quase inacreditável. Mas profissionais como RJ Lake, diretor de Unbeatable, enxergam outro lado. Ele argumenta que Silksong poderia muito bem custar 40 dólares sem perder apelo. A preocupação não é com a escolha da Team Cherry, mas sim com o efeito psicológico nos jogadores: quando milhões compram um jogo tão grande por 20 dólares, cria-se a sensação de que esse deve ser o preço padrão para produções semelhantes.
Lake explica que a Team Cherry tinha condições únicas: trabalharam anos sem um orçamento tradicional, sem salários fixos ou pressão de investidores. Assim, puderam se dar ao luxo de cobrar pouco e ainda sair no lucro. Mas a maioria dos estúdios independentes precisa pagar funcionários, equipamentos, aluguel, marketing e não pode simplesmente reduzir preços a esse nível sem se colocar em risco.
Outros estúdios também demonstraram apreensão. A Toukana Games, responsável por Dorfromantik, disse que já considera o impacto de Silksong na precificação de seu próximo título, Star Birds. Para eles, concorrer diretamente com o hype e o valor de Silksong é complicado, ainda mais sendo um projeto conjunto com várias pessoas na equipe. Até mesmo criadores menores, como Basti Games, que trabalha em Lone Fungus: Melody of Spores, questionaram: se Silksong custa 20 dólares, então um jogo menor deveria custar 10?
A comunidade de jogadores, por outro lado, reage de forma mais otimista. Muitos lembram que o primeiro Hollow Knight já tinha sido lançado por 15 dólares e que a Team Cherry manteve a coerência. Para os fãs, valor não é só tamanho ou orçamento, mas também diversão e qualidade. O caso de Factorio é frequentemente citado: 40 dólares, mas aceito por todos porque oferece centenas de horas de conteúdo e altíssima rejogabilidade. Vários jogadores incentivaram os pequenos estúdios a cobrarem o que for necessário para se manterem, sem tentar imitar padrões inalcançáveis.
Enquanto isso, a comparação com a indústria AAA tornou-se inevitável. Jogos de grande orçamento custam 70 dólares ou mais, muitas vezes acompanhados de versões premium acima de 100 dólares, além de microtransações. Silksong coloca esses preços sob nova luz: se uma equipe pequena consegue entregar um jogo robusto e bem acabado por 20 dólares, por que pagar três vezes mais por uma campanha de 20 horas cheia de extras pagos? Para alguns, Silksong não ameaça os indies, mas expõe a ganância dos grandes publishers.
No entanto, muitos especialistas reforçam que Silksong é um caso atípico, não uma nova regra do mercado. Comparações com Baldur’s Gate 3 surgem com frequência: jogos excepcionais acabam sendo tratados como novos padrões, quando na prática nasceram de condições raras. A realidade é que cada projeto precisa encontrar seu ponto de equilíbrio entre custo, ambição e percepção de valor dos jogadores.
No fim, os 20 dólares de Silksong funcionam como faca de dois gumes. Para o público, é uma vitória e um gesto de generosidade. Para os desenvolvedores, um lembrete da fragilidade financeira que acompanha o desenvolvimento independente. E para a indústria como um todo, uma oportunidade de refletir: preço baixo não garante sucesso, assim como preço alto não garante qualidade. O que faz um jogo durar é a paixão e o impacto que ele causa em quem joga.