Há anos a linha Ultra da Samsung vive uma espécie de paradoxo: é vendida como o ápice do Android, cheia de câmera absurda, tela de cinema, recursos de IA por todos os lados… mas a bateria ficou presa no tempo. A cada geração a ficha técnica brilhava em quase tudo, menos naquele número que mais interessa para quem passa o dia inteiro no celular. Enquanto isso, marcas chinesas começaram a exagerar – no bom sentido – em capacidade e velocidade de carregamento, e a sensação entre muitos fãs da Samsung era simples: por que o nosso Ultra ainda está preso nos mesmos 5.000 mAh?
Por isso, quando começaram a aparecer rumores de que o Galaxy S26 Ultra finalmente passaria dessa barreira, muita gente, inclusive eu, respirou aliviada. 
Era o upgrade que parecia óbvio, mas que nunca vinha. E sim, pelo que tudo indica, ele vem: estamos falando de uma bateria de 5.200 mAh. No papel, a Samsung enfim pode dizer que deu um passo à frente. Mas, olhando mais de perto, esse passo tem bem menos impacto do que o marketing vai fazer parecer.
Porque, convenhamos, em 2026 uma diferença de apenas 200 mAh não soa como uma revolução, e sim como o mínimo para não ficar feio na comparação com a Apple e para, tecnicamente, continuar na frente no número frio da capacidade. Em uma linha chamada Ultra, que cobra preço de notebook, o usuário espera algo mais ousado do que uma evolução tímida só para manter vantagem em tabela comparativa.
Bateria maior no Galaxy S26 Ultra, mas o salto é pequeno
Depois de várias gerações cravadas em 5.000 mAh, ver o S26 Ultra subir para 5.200 mAh parece, à primeira vista, uma vitória simbólica. A Samsung ganha uma headline fácil para a apresentação: mais bateria, mais autonomia, menos ansiedade por tomada. É o tipo de número que fica bonito em slide de evento e em anúncio de TV.
Na prática, porém, quem conhece o dia a dia sabe que a diferença provavelmente será bem discreta. Talvez você consiga assistir a mais um episódio na Netflix, jogar mais uma partida no jogo preferido ou chegar em casa com uns 6% em vez de 3%. Isso é bom, claro, mas está longe de mudar sua relação com o aparelho. Você não vai acordar na sexta e pensar: ‘agora sim, esse celular aguenta dois dias fácil’.
Vale lembrar também que autonomia não é só questão de miliampère-hora. Processadores ficam mais eficientes, telas adaptam o brilho e a taxa de atualização de forma mais inteligente, o sistema aprende padrão de uso e mata apps em segundo plano com mais agressividade. Tudo isso ajuda. Mas quando vemos concorrentes experimentando com baterias muito maiores e novas químicas, essa subida tímida para 5.200 mAh parece mais uma correção de rota do que uma visão ousada de futuro.
Carregamento mais rápido ajuda, mas não salva a narrativa
Para não ser injusto, o pacote do S26 Ultra não é só sobre bateria um pouco maior. Os rumores falam também em um salto no carregamento: de 45 W para 60 W no fio e de 15 W para 25 W no carregamento sem fio. Para quem vem de um Galaxy mais antigo, isso, sim, pode ser sentido logo nos primeiros dias.
Com 60 W, aquele carregamento de emergência antes de sair de casa fica mais confiável: em 15 ou 20 minutos na tomada você deve recuperar uma boa porcentagem, suficiente para aguentar uma tarde de trabalho ou uma ida à faculdade. Já os 25 W sem fio tiram o carregador de base da categoria ‘enfeite’ e colocam na vida real. Deixar o celular alguns minutos na base enquanto toma banho ou janta passa a fazer diferença concreta no nível de bateria.
O problema é que, de novo, quando a gente olha para o que as marcas chinesas estão oferecendo, esses números deixam de parecer agressivos e começam a parecer conservadores. Lá fora já virou rotina ver aparelhos com 80 W, 100 W ou até mais, somados a baterias enormes. O S26 Ultra melhora o que a Samsung já tinha, mas ainda joga em um campeonato mais cauteloso, preocupado com desgaste e segurança, enquanto outros fabricantes se arriscam com soluções bem mais radicais.
Enquanto isso, a concorrência chinesa brinca em outra liga
Hoje já não é estranho ver celulares com 7.000, 8.000 ou até 10.000 mAh aparecendo em linhas mais nichadas na China, muitas vezes usando tecnologias como células de silício-carbono para aumentar densidade sem transformar o aparelho em um tijolo. Nem todos esses experimentos são perfeitos, claro, mas mostram uma coisa: quando uma marca decide que autonomia é prioridade real, dá para ir muito além de 5.000 mAh.
Para usuários pesados – quem joga muito, trabalha o dia inteiro pelo telefone, vive em trânsito ou viaja muito – isso faz toda a diferença. São essas pessoas que percebem nitidamente a diferença entre 6 e 8 horas de tela, entre terminar o expediente com 40% ou com 10%. E muitas delas são justamente o público natural da linha Ultra. Quando esse público olha para o que os chineses estão propondo e compara com a subida tímida do S26 Ultra, fica difícil vender a ideia de que a Samsung está liderando a conversa sobre bateria.
Samsung x Apple: o jogo das fichas técnicas
Na disputa direta com a Apple, porém, o cenário muda um pouco. O iPhone 17 Pro Max deve ficar em uma faixa de bateria parecida, compensando parte disso com a integração pesada entre hardware próprio e iOS. Durante anos a Samsung se apoiou no argumento simples de que tinha baterias maiores, mesmo quando a diferença na prática não era tão grande assim.
Com 5.200 mAh, o discurso fica mais confortável: em qualquer comparativo de especificações, a Samsung pode continuar dizendo que entrega mais capacidade que o iPhone topo de linha. Tecnicamente, isso é verdade. Na vida real, é pouco provável que a diferença de tela ligada seja absurda. Fatores como eficiência do chip, brilho automático, otimização do sistema e até o tipo de uso pesam mais do que 200 mAh de vantagem.
É aqui que surgem as acusações clássicas de fanboyismo. Basta criticar esse tipo de upgrade tímido para aparecer alguém dizendo que o autor só quer promover a Apple. Mas não se trata de torcer para uma marca ou outra. A questão é: por que a Samsung, com o tamanho e o orçamento que tem, se contenta em fazer o mínimo necessário para ganhar no papel, em vez de ser agressiva em um ponto que os seus próprios fãs pedem há anos?
Não é ser fã da Apple, é querer que a Samsung lidere de verdade
O mais curioso é que, várias vezes, a Samsung segue tendências lançadas pela própria Apple que a maioria dos usuários não pediu. Lembra do fim do conector de fone de ouvido? Primeiro foi piada em campanha, depois virou realidade no Galaxy. A mesma história se repetiu com o carregador saindo da caixa: muito meme, muita crítica… até que, de repente, todo mundo tirou.
Se as decisões polêmicas da Apple são copiadas com tanta rapidez, é normal esperar que as boas ideias também inspirem respostas à altura. Quando surgem rumores de um iPhone dobrável com bateria bem maior que a do Galaxy Z Fold 7, não é difícil imaginar um Z Fold 8 subindo de nível só para não ficar atrás. Quando se fala em iPhone comemorativo com câmera e sensores frontais totalmente sob a tela, parece questão de tempo até vermos um Galaxy seguindo o mesmo caminho – talvez até alguns meses antes, só para dizer que chegou primeiro.
Na prática, a sensação é que a Samsung vive em um modo reativo: observa o que a Apple faz, ajusta o próprio roadmap e vai encaixando respostas. Às vezes isso gera produtos excelentes, como os dobráveis. Mas, na parte de bateria, tem sido mais uma dança de pequenos ajustes do que uma mudança de postura.
Como seria uma estratégia de bateria realmente Ultra
Imagine um cenário diferente para o S26 Ultra. Em vez de subir timidamente para 5.200 mAh, a Samsung poderia apostar em uma variante com foco total em autonomia: um modelo um pouco mais espesso e pesado, talvez, mas com uma bateria realmente grande, combinada a uma gestão inteligente de energia e a um sistema de resfriamento pensado para segurar desempenho sem fritar o aparelho.
Poderia também investir mais agressivamente em novas arquiteturas de bateria, como módulos empilhados que já são usados em carros elétricos, ou combinação de diferentes tipos de célula para equilibrar capacidade e durabilidade. Some a isso um carregador mais potente na caixa (ou pelo menos disponível a preço justo) e um software que aprenda de verdade seu perfil de uso e priorize o que é essencial para você ao longo do dia.
Não seria um aparelho perfeito para todo mundo, claro. Teria quem achasse pesado ou grosso demais. Mas, ao menos, a Samsung teria uma história forte para contar: este é o celular para quem realmente precisa de bateria de sobra. Em vez disso, o que temos no S26 Ultra é uma melhoria correta, porém tímida, que melhora a vida de quem vem de um Galaxy antigo, mas dificilmente entra para a história como um divisor de águas.
E o futuro: seguir a Apple ou traçar o próprio caminho?
Se olhar para os últimos anos, fica claro que a briga entre Apple e Samsung trouxe muita coisa boa: telas absurdas, câmeras cada vez mais versáteis, formatos novos como os dobráveis e até uma corrida saudável na parte de desempenho. Porém, junto com tudo isso, vieram decisões que deixaram o usuário mais dependente de acessórios, com menos opções de porta e com preços cada vez mais altos.
Para frente, é bem provável que o padrão continue. Um iPhone dobrável com bateria parruda quase certamente fará a Samsung reagir com um Fold ainda mais resistente e com mais autonomia. Um iPhone comemorativo com frente totalmente limpa, sem furo nem recorte, provavelmente vai esbarrar em um Galaxy com proposta semelhante. Se o tal iPhone Air voltar com foco em leveza e design fino, não estranharia ver o renascimento oficial da marca Edge.
A questão não é se a Samsung consegue acompanhar – isso ela já provou que pode. A questão é se ela vai escolher liderar justamente onde seus fãs mais cobram: bateria e tempo longe da tomada. O S26 Ultra, com sua bateria de 5.200 mAh e carregamento mais rápido, é um passo na direção certa. Mas ainda está longe daquele salto que muita gente esperava ver depois de tantos anos de espera.
Não é excesso de expectativa, nem idolatria à Apple. É apenas a frustração de ver um aparelho chamado Ultra avançar a conta-gotas em um dos pontos mais críticos da experiência. Em um mundo cheio de monstrinhos de bateria, um aumento de 200 mAh parece pouco para quem queria parar de caçar tomada a cada fim de tarde.