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Boom de IA e preços da RAM: o que isso significa para o PC gamer

por ytools
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Durante anos venderam a ideia de que inteligência artificial seria a grande salvação da humanidade, que tudo ficaria mais fácil, mais rápido, mais inteligente. Para quem joga no PC, a realidade chegou de outro jeito: em vez de revolução nas experiências de jogo, o que apareceu primeiro foi o salto absurdo nos preços de memória RAM e SSD.
Boom de IA e preços da RAM: o que isso significa para o PC gamer
Enquanto data centers gigantes correm para montar fazendas de servidores voltadas para modelos generativos, a conta bate direto no bolso de quem só quer montar um PC gamer decente sem estourar o orçamento.

Até pouco tempo atrás, memória era parte chata do orçamento. Você esperava uma promoção, comprava um kit de 16 ou 32 GB, pegava um SSD de 1 ou 2 TB, montava a máquina e seguia a vida. Essa fase acabou. Montadoras como a CyberPowerPC já relatam que o custo de RAM subiu várias vezes desde o começo do quarto trimestre, e SSD praticamente dobrou de preço. Em comunicados recentes, a empresa fala em aumentos em torno de quinhentos por cento em alguns módulos de RAM e alta próxima de cem por cento em SSD, o que começou a pesar de forma clara no valor final dos PCs gamers a partir do início de dezembro.

Do lado da indústria, o recado é parecido. Tim Sweeney, chefe da Epic Games, comentou publicamente que a explosão de preços da RAM não é uma marola passageira. Segundo ele, as fábricas de memória estão desviando a capacidade mais avançada de DRAM para atender servidores de IA, porque esses grandes clientes pagam muito mais do que qualquer fabricante de notebook ou de PC gamer. Quando um único servidor de inteligência artificial, recheado de aceleradores e pilhas de memória de altíssima largura de banda, fatura milhões, fica fácil entender por que o gamer comum deixa de ser prioridade.

Analistas de mercado como o pessoal da TriOrient descrevem o momento como uma corrida do ouro. A demanda para 2026 já supera a de 2025 em vários contratos, principalmente para memórias do tipo HBM, que alimentam placas e aceleradores de empresas como a Nvidia. Essa memória é cara, complexa e ocupa as linhas mais modernas de fabricação. A partir do momento em que boa parte da capacidade da indústria é reservada para atender esses pedidos, sobra menos espaço para DRAM comum de desktop, para memórias de notebook e até para chips usados em eletrônicos de consumo e carros. O resultado é óbvio: onde a oferta aperta, o preço sobe.

No varejo, a sensação é de mercado financeiro. Algumas lojas passaram a trabalhar com preço de RAM quase como se fosse ação em bolsa, mudando tabela em questão de dias. Tem história de jogador que viu uma promoção num combo com placa 5070 Ti, processador 9800X e 32 GB de DDR5 por algo em torno de 1800 dólares em uma Micro Center e comprou na hora, dizendo hoje que parece ter pego o último helicóptero saindo da cidade. Outro caso frequente é o de quem comprou 32 GB de DDR5 por 200 dólares e, uma semana depois, encontrou exatamente o mesmo kit por mais de 400. A mensagem é dura: para muita gente, nessa faixa de preço, o upgrade simplesmente deixa de fazer sentido.

Com isso, muda a matemática básica que guiou o PC gamer por anos. Antes, o discurso era quase padrão: um PC bem montado custa mais que um console, mas entrega bem mais desempenho, mais flexibilidade, mais liberdade de upgrade. Hoje, com memória e armazenamento inflando o orçamento, montar um desktop que realmente passa com folga um console como um eventual PlayStation de próxima geração pode custar o dobro do valor de uma máquina de sala. Não é surpresa ver veteranos que sempre miraram nas placas topo de linha da série xx80 Ti migrarem para modelos intermediários, alongando ciclo de upgrade para três ou quatro gerações em vez de trocar de placa a cada lançamento.

Muita gente também decidiu ficar firme no DDR4. Na época do boom da mineração de criptomoedas em 2021, a ideia era pular logo para DDR5, mas a combinação de preço alto e estoque sumindo das prateleiras segurou a migração de boa parte da galera. Agora, olhando os testes recentes, esses usuários não se sentem em desvantagem. Na maioria dos jogos, a diferença entre um bom kit DDR4 e um DDR5 em torno dos 6000 MHz fica ali na casa de zero a quinze por cento, e em resoluções como 4K a limitação costuma ser a placa de vídeo, não a memória. Em renderização e outras tarefas pesadas, o ganho existe, mas está longe de justificar um salto de preço tão agressivo. A conclusão de muitos é simples: se você já tem uma plataforma sólida em DDR4, talvez valha mais a pena esperar pela geração DDR6 do que pagar tabela de crise pela DDR5.

Alguns entusiastas estão se protegendo de forma criativa. Tem quem tenha comprado um notebook gamer ou um portátil estilo console de PC com 32 GB de DDR5 enquanto os preços ainda estavam relativamente aceitáveis, usando o aparelho como máquina reserva caso o desktop principal morra no meio dessa fase de escassez. Outros estocam kits extras de DDR4 e SSDs de 1 TB em promoção como se fosse fundo de emergência de hardware, para ajudar amigos ou revender se o mercado apertar ainda mais. Coisas que antes pareciam exagero, como ter um segundo PC minimamente decente pronto para uso, começam a fazer sentido no cenário atual.

Os consoles também sentem a pressão, mesmo que o jogador não veja isso de forma tão direta. Fabricantes precisam renegociar contratos de fornecimento de memória e NAND, e toda vez que um acordo antigo termina, eles encaram uma realidade de preços bem menos amigável. É daqui que nascem rumores sobre possíveis aumentos no valor do Xbox ou sobre fabricantes pensando em versões com menos armazenamento. A Valve, por exemplo, fala com muito cuidado sobre próximos passos em hardware estilo Steam Machine, porque é complicado cravar um preço agressivo quando RAM e SSD variam tanto em poucos meses.

Na comunidade, o clima é de déjà vu. Muitos jogadores lembram bem do período em que a mineração de criptomoedas secou estoques de placa de vídeo, e agora veem o combo IA mais uma vez distorcendo o mercado, só que com foco em memória e armazenamento. Cresce a sensação de que o usuário entusiasta está financiando, sem querer, uma onda de serviços e produtos de inteligência artificial que nem necessariamente trazem benefício real para ele. Em vez do futuro brilhante prometido, a visão de muita gente é de um mercado mais caro, com menos espaço para criatividade autoral e mais coleta de dados nos bastidores.

No fim das contas, quem pensa em montar ou atualizar PC nos próximos anos precisa encarar uma realidade menos romântica. Pelo menos enquanto o boom de IA estiver no auge, o PC gamer high end tende a ficar cada vez mais próximo de hobby de luxo. Vai ser necessário escolher melhor onde colocar o dinheiro: priorizar placa de vídeo em vez de exagerar na RAM, aceitar SSDs menores porém mais rápidos, esticar ao máximo a vida útil do que você já tem e aproveitar oportunidades pontuais em grandes promoções. As pechinchas de 32 GB de DDR5 e SSDs gigantes a preço de banana ficaram no passado. Até que surjam novas fábricas e a demanda se equilibre, cada novo data center levantado em nome da IA tem um preço silencioso: mais um degrau de distância entre o sonho do PC dos sonhos e o que cabe no bolso de boa parte dos jogadores.

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