
Preços de DDR5 e DDR4 em alta: como a corrida da IA vai pesar no seu PC até 2027
Por muitos anos a memória RAM foi a parte menos emocionante da ficha técnica de um PC. Você escolhia a placa de vídeo, o processador, dava uma olhada rápida no preço da memória, jogava 16 ou 32 GB no carrinho e seguia a vida. Em 2025, essa fase acabou. Os preços de DDR5 e DDR4 dispararam no mundo todo e tudo indica que essa maré alta não vai baixar tão cedo. Analistas, fabricantes e lojistas falam em um período de aperto que pode se estender até 2027, justamente quando muita gente planejava montar uma máquina nova ou fazer aquele upgrade de respeito.
O motivo não é mistério: inteligência artificial virou o novo ouro do setor de tecnologia. Data centers, nuvens e empresas que treinam modelos gigantescos de IA estão comprando memória e armazenamento em quantidades absurdas. Cada servidor recheado de DDR5, LPDDR5, HBM e SSD de alta capacidade consome os mesmos wafers e os mesmos chips que antes iam parar em desktops gamers, notebooks e até consoles. Diante disso, o consumidor comum deixa de ser protagonista e vira coadjuvante na fila de prioridade da indústria.
Da RAM baratinha ao choque de preço em poucos meses
Para ter uma ideia do tamanho da mudança, basta lembrar como era o cenário pouco tempo atrás. Em 2023 e no começo de 2024, kits de 16 GB DDR4 com frequências populares ainda eram considerados baratos, e 32 GB DDR5 pareciam um luxo acessível para quem montava uma configuração mais moderna. Muita gente deixou para depois o upgrade para 32 ou 64 GB, esperando aquela promoção de meio de ano, como sempre aconteceu no passado.
De lá para cá, o mercado virou de cabeça para baixo. Em questão de meses, vários kits que custavam o equivalente a um jantar mais caprichado passaram a disputar orçamento com placa de vídeo intermediária. Kits de 32 GB saltaram para patamares em que muita gente simplesmente desistiu da compra. Nos extremos, conjuntos de 128 ou 256 GB, que já eram caros, se transformaram em itens quase de nicho, restritos a estações de trabalho e profissionais que realmente dependem desse volume de memória todos os dias.
Micron abandona Crucial: um recado claro para o consumidor doméstico
Um dos sinais mais simbólicos dessa nova fase foi a decisão da Micron de encerrar, na prática, a atuação da sua marca de varejo Crucial. Durante anos, a Crucial foi sinônimo de memória e SSD confiáveis a preços honestos para quem montava PC em casa. Ver esse nome sair de cena não é só uma questão de marketing, é a prova de que o foco estratégico da empresa mudou.
Na visão da Micron, faz mais sentido direcionar capacidade fabril e investimento para produtos destinados a servidores de IA e infraestrutura de nuvem, onde contratos de longo prazo e margens gordas falam mais alto. Isso não significa que o mercado doméstico vai sumir, mas deixa claro quem está no topo da fila quando falta chip no estoque. Outras gigantes do setor, como SK hynix e Samsung, seguem o mesmo caminho, reforçando a aposta em memória para data center e produtos high end, e deixando o consumidor comum com menos poder de barganha.
De falta pontual a escassez estrutural
Fabricantes que atuam diretamente no mercado de entusiastas e gamers também vêm soando o alarme. Marcas como Teamgroup relatam uma pressão constante sobre preços de DRAM e NAND, não apenas por variação de câmbio ou custo de logística, mas por um desequilíbrio real entre oferta e demanda. A procura por plataformas de servidor com DDR5, a migração de notebooks e portáteis para LPDDR de alta velocidade e a escalada de GDDR6 e GDDR7 para placas de vídeo consomem praticamente toda a capacidade disponível.
Do lado do armazenamento, data centers estão trocando muitos discos rígidos por grandes arrays de SSD, inclusive para dados frios, que antes ficavam em HD lentos e baratos. Isso puxa o consumo de NAND ainda mais. Fábricas de wafers operam próximas do limite, e ampliar produção em semicondutores é um processo lento e caro. Na prática, toda a linha, do DDR4 mais simples à DDR5 mais rápida, entra no mesmo funil apertado.
Por que este ciclo é pior do que as crises de GPU e SSD
Quem acompanha hardware há mais tempo já viu muita coisa feia. A era da mineração de criptomoedas detonou o mercado de placas de vídeo. A pandemia bagunçou logística global e fez até placa mãe virar artigo raro. Houve também um ciclo de alta forte em DDR4 anos atrás. Ainda assim, a situação atual tem um sabor diferente e, em muitos aspectos, mais complicado.
Em momentos de GPU inflacionada, sempre existiu saída: rodar jogo em resolução menor, reduzir filtros, optar por uma placa da geração passada ou um modelo mais simples. Quando SSD disparou, dava para segurar com uma unidade menor e empurrar arquivos para um HD mais barato ou para o armazenamento em nuvem. Com RAM, a margem de manobra é muito menor. Cada sistema operacional e cada aplicativo tem um mínimo para funcionar, e existe um ponto em que, abaixo de certo volume, o PC simplesmente vira um festival de travamentos e tela congelada.
DDR4 e DDR5 na prática: quando 32 GB viram artigo caro
O resultado é que a antiga faixa ideal de 16 a 32 GB está sendo puxada para cima em velocidade recorde, ao mesmo tempo em que os preços dão saltos. Kits DDR4 de 16 GB, que ainda eram vistos como opção honesta para máquinas intermediárias, passaram a custar o dobro em muitos mercados. Conjuntos de 32 GB DDR4, que antes eram a escolha natural de quem queria folga para jogos e multitarefa, se aproximam perigosamente da casa em que você pensa duas vezes antes de clicar em finalizar compra.
Do lado da DDR5, o quadro é ainda mais agressivo. Para tirar proveito dos processadores mais novos de Intel e AMD, o usuário acaba preso ao ecossistema DDR5, em que kits de 32 GB com frequências razoáveis já custam caro demais, e os de 64 ou 96 GB ficam reservados para quem tem orçamento muito folgado ou necessidades profissionais específicas. A consequência é óbvia: muita gente que gostaria de migrar de uma plataforma antiga com DDR4 para algo mais moderno simplesmente adia o plano por tempo indeterminado.
Memória cara atinge GPU, SSD, notebooks e consoles
Quando DRAM fica cara, ela não encarece apenas os módulos que você coloca nos slots da placa mãe. Placas de vídeo usam GDDR, que vem da mesma cadeia de suprimentos, e também sofre com custo de wafer e componentes. Se o preço da memória sobe, fabricantes de GPU têm duas escolhas: repassar o valor para o consumidor ou cortar quantidade de memória nos modelos mais baratos, o que encurta a vida útil dessas placas para jogos pesados e resoluções mais altas.
Nos SSD, o raciocínio é parecido. Se data centers consomem volumes gigantes de NAND, sobra menos espaço para aquele SSD de 2 ou 4 TB que você estava namorando para instalar sua biblioteca de jogos. E não para por aí. Notebooks com RAM soldada e consoles de nova geração também entram na conta. Próximos projetos de PlayStation, Xbox e competidores precisarão de mais memória e mais largura de banda para acompanhar engines modernos e recursos com IA embarcada. Se o custo de DRAM continuar alto na fase de definição de hardware, o resultado pode ser console mais caro, especificação mais modesta ou margens apertadas para as empresas.
16 GB x 32 GB: qual é o novo mínimo real
Em fóruns e redes sociais, a discussão mais acalorada hoje é bem simples: ainda dá para viver bem com 16 GB, ou 32 GB já se tornaram o padrão de fato para um PC gamer moderno. A resposta depende do tipo de uso, mas o vento sopra claramente em direção a mais memória. Para um uso básico, com navegação, streaming, escritório e alguns apps leves, 16 GB continuam funcionando. O problema é que basta somar Windows 11, navegador com dezenas de abas, algum mensageiro aberto, cliente de jogo rodando em segundo plano e um game pesado para ver o sistema engasgar.
Para quem monta um PC com a ideia de segurar alguns anos sem trocar tudo, 32 GB hoje parecem o ponto de equilíbrio razoável. Menos do que isso traz risco de dor de cabeça em pouco tempo, especialmente com jogos cada vez mais pesados, motores cheios de assets e sistemas operacionais adicionando funções com IA local para busca, assistentes e afins. Acima de 32 GB, entramos em um território mais profissional, voltado para edição de vídeo pesada, 3D, várias máquinas virtuais e fluxo de trabalho realmente intensivo.
A voz da comunidade: arrependimentos, piadas e medo de ladrão de RAM
As reações da comunidade de hardware misturam bom humor, ironia e um certo desespero. Não faltam relatos de gente que colocou 32 GB em um PC de mídia em 2023 apenas por conforto, sem precisar, e agora se sente quase um visionário ao ver quanto custa um kit semelhante hoje. Outros comentam que a memória instalada em um mini PC já vale tanto quanto a máquina inteira custou no lançamento, rendendo piadas sobre trancar gabinete com chave para evitar o surgimento de uma nova profissão curiosa: ladrão de RAM.
Ao mesmo tempo, pipocam as clássicas frases de quem olha no retrovisor e diz que era só ter comprado quando estava barato. É fácil falar depois. A verdade é que a maioria das pessoas simplesmente não tinha motivo real para subir para 64 GB no passado recente. O uso não exigia e o orçamento tinha outras prioridades, como GPU e monitor. Agora, com o salto nos preços, muito entusiasta olha para 2028 ou além como o próximo ponto realista para montar o tão sonhado super computador, torcendo para que até lá o mercado tenha encontrado um novo equilíbrio.
Otimizadores sonhadores x realidade da indústria de software
Sempre que o hardware fica caro, surge o coro de que está na hora dos desenvolvedores aprenderem a otimizar de novo. Na teoria, faz sentido. Na prática, o cenário é bem menos romântico. Jogos modernos são monstros de complexidade, precisam rodar em diversas plataformas, recebem atualizações constantes, patches de equilíbrio, conteúdo sazonal e integração com serviços online. Otimizar até o último byte é caro, demorado e nem sempre traz retorno financeiro imediato.
Além disso, tanto Windows quanto outros sistemas vêm incorporando recursos com IA embarcada, pesquisas mais inteligentes, reconhecimento de voz, assistentes, tudo rodando em segundo plano. Cada camada nova come um pedaço da memória disponível. Sob pressão de prazos e orçamentos, é mais simples colocar 32 GB como recomendação e seguir em frente do que gastar meses aparando arestas para que 16 GB continuem confortáveis. Há exceções, claro, mas não dá para contar com uma virada geral de mentalidade apenas porque DDR5 ficou cara.
Capitalismo puro, IA no topo da fila e o fator chinês
Se tirarmos a emoção da conversa, o que está acontecendo é capitalismo funcionando exatamente como desenhado. Quem paga mais e compra em volume leva prioridade. Hoje, isso significa gigantes de nuvem, empresas de IA e grandes corporações montando data centers. O usuário doméstico, que compra um kit de memória a cada três ou quatro anos, fica no fim da fila quando o estoque aperta.
No horizonte, existe a possibilidade de fabricantes chineses de DRAM aumentarem agressivamente a produção de módulos mais simples e baratos voltados justamente para o mercado de consumo, pressionando preços e mudando o equilíbrio de forças. Se isso acontecer em paralelo a uma eventual desaceleração na corrida da IA, a conta pode virar. Mas esse é um cenário de médio e longo prazo. Para 2025, 2026 e boa parte de 2027, a realidade concreta é de memória cara e pouca margem para erro na hora de planejar a próxima máquina.
Dicas práticas para sobreviver à fase de RAM cara
Enquanto o mercado não se acalma, a melhor estratégia para o consumidor é ser frio e pragmático. Em vez de correr para estocar módulos no impulso, vale avaliar com honestidade o que realmente faz diferença no dia a dia. Se você já tem 32 GB em um PC voltado para jogos e uso geral, provavelmente está em uma boa posição. Faz mais sentido investir em uma placa de vídeo melhor, em um monitor com taxa de atualização mais alta ou em um SSD maior do que em um salto para 64 GB só por vaidade técnica.
Se você ainda está com 16 GB e sente o sistema sufocando, aí sim vale olhar um kit de 32 GB com carinho, mas sem perder a cabeça. Dê preferência a conjuntos fechados, evite misturar módulos diferentes e, se o orçamento estiver muito apertado, aceite frequências um pouco menores em troca de preço mais amigável. Quem trabalha profissionalmente com edição, modelagem ou programação pesada precisa tratar esse gasto como investimento, não como hobby, e colocar na ponta do lápis o retorno dessa melhoria de produtividade.
Também é hora de olhar para detalhes muitas vezes ignorados. Notebooks com RAM soldada e sem slot livre merecem atenção redobrada, porque comprar hoje um modelo com 8 ou 16 GB fixos pode significar um aparelho limitado bem antes do fim da vida útil do resto do hardware. Em desktops, vale considerar o mercado de usados ou até módulos oriundos de ambiente corporativo, desde que você saiba testar e ver compatibilidade. Não é a solução mais glamourosa, mas pode ser a diferença entre ficar preso em 16 GB e conseguir respirar com 32 GB.
Conclusão: memória deixa de ser coadjuvante e vira vilã do orçamento
Depois de anos em que a discussão girava em torno de qual GPU comprar ou qual processador entrega mais por menos, a memória RAM voltou ao centro do debate, e não pelos melhores motivos. A corrida por IA mudou a ordem de prioridades da indústria de semicondutores. DDR5 e DDR4 deixaram de ser um item quase automático da lista de compras e se tornaram um fator decisivo no custo total de um PC novo.
O quadro não é de apocalipse, mas de adaptação. O período até 2027 promete ser de preços altos, capacidade apertada e escolhas mais difíceis para quem gosta de hardware. Nesse cenário, informação e planejamento valem quase tanto quanto clock e latência. Entender como a cadeia de produção está mudando, quais são suas reais necessidades e quanto tempo você pretende ficar com a mesma máquina ajuda a tomar decisões mais inteligentes. A boa notícia é que a comunidade de entusiastas sempre soube se virar em épocas complicadas. A má é que, desta vez, a batalha não é contra mineradores ou scalpers, e sim contra a fome de memória de uma indústria inteira correndo atrás do próximo grande modelo de IA.