
Apple aposta no Google Gemini para enfim deixar a Siri esperta de verdade
Depois de um ano de promessas desde o iPhone 16 “feito para Apple Intelligence”, a Apple prepara o maior reposicionamento da Siri. Se nada mudar, o pacote chega na primavera de 2026 junto do iOS 26.4. Na tela, tudo terá cara de Apple; por baixo do capô, quem faz a força é o Google Gemini. A ideia é simples de explicar e complexa de executar: manter a experiência, o design e a política de privacidade da Apple, mas abastecer o cérebro da assistente com um modelo de linguagem de última geração.
Por que agora? A Siri nasceu para comandos objetivos e domínios fechados: lembretes, mensagens, eventos. Quando a conversa ficou aberta, com perguntas longas, múltiplos contextos e necessidade de raciocínio, a arquitetura original começou a chiar. A obsessão da Apple por privacidade – um diferencial real – também impôs freios: sem mandar dados para qualquer nuvem, ficou difícil evoluir na velocidade das rivais. O resultado é conhecido: a Siri parou de surpreender enquanto o resto do mercado abraçou a onda generativa.
Ao longo de 2025, a Apple avaliou parceiras. Antropia (Anthropic) teve bons resultados em testes, mas o pacote da Google fechou melhor com prazos e condições. Importante: isso não “transforma a Siri em produto Google”. Pense no arranjo como um carro: o painel, os controles e o cinto de segurança são da Apple; o motor é o Gemini – poderoso, silencioso e substituível. Você não verá um app “Gemini” tomando o iPhone, nem menus com marca de terceiros.
O desenho técnico é híbrido. Tarefas rápidas e pessoais continuam no aparelho, processadas por Foundation Models da própria Apple. Quando o pedido exigir leitura densa, raciocínio passo a passo ou síntese de muitas fontes, a solicitação sobe para um modelo customizado, baseado em Gemini, que roda em servidores privados da Apple. Assim, a empresa promete controle de ponta a ponta: sem despejar dados em endpoints alheios, mas com a escala e a flexibilidade que só grandes modelos entregam.
E o que muda para quem usa? A expectativa é de uma Siri mais conversacional, capaz de manter contexto entre perguntas, lembrar do fio da meada e evitar respostas fantasiosas. Ferramentas de escrita no sistema – de email a notas – devem ganhar um “coautor” menos mecânico. A busca na web dentro da Siri tende a ficar mais esperta: ler páginas, comparar informações, montar um resumo limpo e, idealmente, citar de onde tirou. Também deve melhorar o vai-e-vem entre apps: extrair horários de emails, montar um itinerário, cruzar agenda com mapas e confirmar detalhes sem pedir cinco toques extras.
Há um pano de fundo de hardware aqui. No mundo Android, 12 GB de RAM viraram o piso em topos de linha, com 16 GB ou 24 GB em modelos premium. Isso abre espaço para modelos locais mais parrudos. Soma-se a explosão de modelos abertos (basta ver hubs como o Hugging Face) e fica claro por que tanta gente fala em empurrar tudo para dentro do telefone. A Apple segue outro caminho: mais parcimônia na memória, otimizações finas e um degrau de nuvem privada para o “peso pesado”. É uma resposta pragmática: ganhos grandes de QI sem esperar um iPhone padrão com 32 ou 64 GB de RAM.
Vai chegar tarde? Quando a atualização desembarcar, terão se passado quase dois anos do anúncio do Apple Intelligence na WWDC 2024. Em tecnologia de consumo, atraso é perdoável se o resultado é excelente. Quase ninguém liga para o nome do modelo, a GPU ou o TPU usados na resposta. Importa transformar um pedido de voz em um plano de calendário correto, um fio de emails em lista de ações confiável – e fazer isso sem “alucinar” reunião que não existe. Se a Apple entregar qualidade consistente e a sensação de privacidade intacta, a narrativa muda de “demorou” para “valeu a pena”.
Existem riscos. Parceiro invisível implica responsabilidade dividida, e a cobrança pública cairá na Apple mesmo assim. A empresa também precisa evitar o efeito “parque de diversões”, em que concorrentes mostram truques novos toda semana enquanto o iPhone avança no ritmo da cautela. O potencial ganho, porém, é claro: estabilidade, previsibilidade e uma assistente que finalmente encara de frente os topos de linha – Galaxy S25, Pixel 10 e companhia – sem trair o DNA de privacidade.
Em resumo, a nova Siri será em camadas: um nível ágil e privado no dispositivo; um nível de raciocínio pesado no cloud privado com um modelo baseado em Gemini; e, por cima, a interface conhecida da Apple, que esconde a complexidade. Se a janela de primavera de 2026 se confirmar, o maior choque pode ser justamente não haver choque: você só vai notar que a Siri, enfim, faz o que sempre deveria – e quase nunca erra.
1 comentário
Privacidade é top, mas tb travou a Siri por anos. Se o híbrido destravar isso, já vale. 🔒