Lady Gaga e Tim Burton enfrentam polêmica de IA em clipe de Wednesday

Lady Gaga nunca teve medo de misturar o bizarro com o belo, mas seu novo projeto com Tim Burton para a segunda temporada de Wednesday conseguiu ir além: transformou um videoclipe em um debate mundial sobre inteligência artificial. O clipe de The Dead Dance, lançado junto com a participação especial de Gaga na série da Netflix, viralizou não apenas pela estética sombria e teatral, mas pelas acusações de que as bonecas assustadoras que aparecem no vídeo seriam criações de IA.

Tudo começou antes mesmo da estreia.

Quando a Netflix divulgou as primeiras imagens de Gaga como Rosaline Rotwood – vestida de branco, com maquiagem fantasmagórica e uma mão misteriosa em seu ombro – os fãs já estavam em frenesi. A expectativa era enorme: como seria a fusão entre o estilo excêntrico da cantora e a visão gótica de Burton? No dia 3 de setembro, a resposta veio com o episódio da série e, claro, com o aguardado videoclipe.

Gravado no macabro “Isla de las Muñecas” no México, local conhecido por centenas de bonecas penduradas e em decomposição, o vídeo é todo em preto e branco, explorando sombras pesadas e cenários que parecem pesadelos. Gaga aparece em um vestido gótico detalhado, dançando de forma frenética enquanto a câmera passeia pelas bonecas. Até que, no refrão, algumas delas começam a se mover. Esse detalhe bastou para incendiar a internet.

Um usuário do X (antigo Twitter) postou que o vídeo era “lixo de IA”, apontando especialmente para os movimentos das mãos das bonecas, que ele considerou artificiais. O post se espalhou rapidamente, alcançando milhões de visualizações e dividindo opiniões: para alguns, a denúncia fazia sentido; para outros, era apenas mais uma paranoia da era digital.

Quem defendeu o vídeo trouxe provas concretas. Os créditos oficiais, divulgados pela The Roots Production Service, mostram claramente que houve uma equipe de VFX dedicada ao projeto. E não só isso: Carlos Llergo, produtor executivo do clipe, comentou no YouTube que os movimentos das bonecas foram feitos em estúdio, sem nenhum uso de IA. “Claro que não. Tudo animado na pós-produção”, escreveu ele, reforçando que esteve envolvido em cada etapa do processo.

Outro ponto que joga contra a teoria da IA é o próprio local de filmagem. A ilha das bonecas já é assustadora por si só. Usar um cenário tão autêntico para depois substituir o efeito por uma animação automática não faria sentido algum. Burton, conhecido por sua obsessão com cenários práticos e efeitos visuais tradicionais, aproveitou o ambiente para potencializar o impacto visual, apenas adicionando retoques digitais quando necessário.

Vale lembrar que o próprio Burton já criticou publicamente o uso de inteligência artificial em 2023, chamando-a de algo que “rouba a alma do artista”. Para um diretor que construiu a carreira com stop-motion, maquiagem prática e direção artesanal, confiar em IA seria quase uma contradição com sua filosofia criativa.

Mesmo assim, há quem continue desconfiado. “Essa nota de comunidade é ridícula. Tá na cara que é IA”, comentou um internauta, ecoando a desconfiança de muitos. Para eles, a negação oficial soa mais como estratégia de relações públicas do que como a verdade absoluta.

Por outro lado, há quem ache o debate inútil. “Pouco importa se é IA ou não. O que vale é o impacto”, escreveu outro usuário. Na visão desse grupo, a polêmica só mostra o quanto as pessoas têm medo de mudanças. Assim como o CGI foi rejeitado no início e hoje é parte fundamental do cinema, a IA estaria apenas repetindo o ciclo de resistência.

No fim das contas, The Dead Dance cumpriu sua missão: causar impacto. Se foi pelo design sombrio das bonecas, pelo talento performático de Gaga ou pela suspeita de IA, o fato é que todo mundo falou sobre isso. E, de certo modo, essa é a maior vitória de um clipe artístico – provocar medo, dúvidas e conversas sobre o que é real e o que não é. Mais burtoniano impossível.

Pelos indícios, o vídeo parece ser fruto de trabalho humano, não de algoritmos. Mas a polêmica deixa claro: entramos numa era em que a confiança no que vemos está cada vez mais abalada. Talvez o verdadeiro terror de The Dead Dance não sejam as bonecas em movimento, mas a sensação de que já não sabemos distinguir a arte da máquina.