Jensen Huang, CEO da NVIDIA, desembarcou na Coreia do Sul para a semana da APEC e transformou um giro corporativo de alto risco em uma história bem brasileira no tom: gente, comida, risadas e negócios. Entre reuniões fechadas e o vaivém diplomático, ele apareceu em uma casa simples de comida local servindo frango frito crocante, brindando com cerveja e soju, e conversando sem cerimônia com a turma. 
As fotos viralizaram nas redes coreanas, mas o subtexto é direto: a NVIDIA está fincando estacas mais profundas na Ásia, e Samsung e Hyundai são peças centrais dessa fase.
A agenda foi maratona. Logo após um dos keynotes mais importantes de sua carreira nos Estados Unidos, Huang voou para Seul enquanto a APEC tentava aproximar Oriente e Ocidente. O clima ficou ainda mais elétrico com o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, pano de fundo para líderes políticos e executivos alinharem segurança de cadeias e o futuro da computação. Nesse contexto, Huang se reuniu com Lee Jae-yong, chairman da Samsung, e Chung Eui-sun, presidente da Hyundai Motor: de um lado, memória e foundry; do outro, mobilidade, robótica e fábricas cada vez mais digitais. É exatamente onde a IA deixa de ser slide e vira PIB.
Os cliques que correram o mundo não foram das salas de reunião, e sim do balcão de um restaurante: Huang entregando pratos de frango e virando shots com executivos coreanos. Ele também trocou ideia com curiosos e investidores empolgados após a escalada da NVIDIA rumo à faixa dos 5 trilhões de dólares em valor de mercado. O tom descontraído passa carisma, mas comunica algo estratégico: a empresa quer garantir o encanamento invisível da era da IA – memória de alta largura de banda, interconexão entre chips, embalagem avançada e fornecedores redundantes.
No tabuleiro de negócios, o laço com a Samsung ficou mais curto. A gigante coreana avançou em HBM3E, a memória ultrarrápida que alimenta os aceleradores modernos, e a Samsung Foundry apareceu dentro do ecossistema NVLink. NVLink não é só logotipo: é o tecido que mantém vários GPUs coerentes e escaláveis, crítica para modelos maiores e janelas de contexto estendidas. Quanto mais crescem parâmetros e contexto, mais manda a banda de memória e a latência – e isso puxa 2,5D/3D packaging, interposers e empilhamento.
Por que a ênfase na Samsung agora? Diversificação e vazão. A demanda por IA devora HBM, capacidade de embalagem e rotas alternativas quando um elo fica saturado. SK hynix e TSMC seguem fundamentais, mas trazer a Samsung para o centro reduz risco de gargalo e ajuda a empurrar volume. Rumores falam em parceria maior no horizonte; se vingar, deve tocar várias camadas: fornecimento de DRAM HBM, inovações de packaging e até serviços de foundry em pontos que complementem o mapa atual de produção da NVIDIA.
E a Hyundai? O papel é mais amplo do que parece. Carros viram computadores sobre rodas; fábricas viram ambientes nativos de IA. Do assistente de condução e modelos embarcados na cabine ao controle de qualidade com visão computacional, robôs e logística inteligente, o eixo GPU–robótica–borda-nuvem está acelerando. As apostas da Hyundai em robótica e nova mobilidade combinam com o kit da NVIDIA para IA industrial e automotiva – o aperto de mãos em Seul fala menos de marketing e mais de chão de fábrica.
A APEC ofereceu o palco, mas o enredo real foi cadeia de suprimentos. Enquanto chefes de Estado discursavam, empresas costuravam discretamente quem entrega memória, quem monta os módulos e como os chips vão conversar entre si. Ao aparecer publicamente com dois dos executivos mais influentes da Coreia, e de modo tão acessível, Huang avisou que a NVIDIA quer estar presente do brinde à planilha: cultura, confiança, engenharia e cronograma.
Sim, teve frango frito, caneca batendo na mesa e comentários apimentados. Porém, o recado final é maior: a NVIDIA está montando uma estratégia multi-nó e multi-fornecedor para manter a era dos aceleradores rodando. O passo da Samsung em HBM3E e sua entrada no ecossistema NVLink apontam colaboração mais profunda; a Hyundai indica a explosão da IA em mobilidade e manufatura. Se Seul pareceu festa, foi também reunião de planejamento para a próxima onda de computação – e a NVIDIA quer todos os talheres alinhados.