Os resultados da Huawei no primeiro semestre de 2025 mostram um paradoxo curioso: a empresa bateu recorde de faturamento, mas viu seu lucro encolher de forma acentuada. Entre janeiro e junho, a gigante chinesa registrou 427 bilhões de yuans (cerca de US$ 59,8 bilhões) – seu melhor desempenho desde 2020. 
Porém, o lucro líquido caiu 32%, chegando a 37 bilhões de yuans (US$ 5,17 bilhões), reflexo dos investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento.
O motivo vem de longe. Desde 2020, com as sanções impostas pelos Estados Unidos, a Huawei perdeu acesso a tecnologias estratégicas justo quando estava prestes a ultrapassar a Samsung em vendas globais de smartphones. Em vez de recuar, a empresa dobrou a aposta: investiu bilhões em chips próprios, equipamentos de rede e novos dispositivos, mesmo sem acesso às máquinas de litografia EUV mais avançadas. O preço dessa estratégia é alto no curto prazo, mas abre espaço para a sobrevivência no futuro. Só no primeiro semestre de 2025, a Huawei destinou quase 97 bilhões de yuans (US$ 13,6 bilhões) a P&D, contra 88,9 bilhões no mesmo período do ano anterior.
Esses esforços já se refletem no Mate 60, equipado com o chip Kirin 9000S, fabricado pela SMIC em processo de 7nm. O lançamento gerou polêmica: autoridades dos EUA acusaram a Huawei de contornar as restrições para avançar no setor de semicondutores. Hoje, a SMIC continua limitada a 7nm, sem acesso às máquinas EUV de ponta, o que coloca um teto claro na inovação. Mas parceiros locais, como a SiCarrier, trabalham em equipamentos EUV próprios – um movimento que pode reduzir a dependência da China em relação a fornecedores ocidentais e reconfigurar a disputa global por tecnologia.
A trajetória da Huawei deixou de ser apenas sobre sobrevivência: agora é sobre conquistar independência tecnológica em meio a pressões geopolíticas. Por enquanto, a empresa mostra que ainda consegue gerar bilhões e manter relevância mundial – mesmo sacrificando parte do lucro.