O universo dos microbrands já provou que dá para entregar muito em design, acabamento e materiais sem pedir um rim em troca. O que raramente vemos, porém, é uma dessas marcas pequenas sair da cartilha dos calibres prontos e apostar em complicações mais ambiciosas. O Haim Annum faz exatamente isso. Para celebrar seu quinto aniversário, a Haim Watch Company, de Chicago, lançou um relógio que foge ao lugar-comum: calendário anual mais fase da Lua, movimento automático customizado e um pacote de detalhes que normalmente aparecem em relógios bem mais caros – tudo em um corpo de 38 mm que conversa com o pulso e com a realidade.
Calendário anual, sem mistério
Na prática, um calendário anual é a solução esperta para quem quer conveniência sem cair na complexidade extrema. 
Ele reconhece automaticamente os meses de 30 e 31 dias e corrige a data sozinho; só precisa de um toque humano uma vez por ano, no dia 1º de março, por causa de fevereiro. O calendário perpétuo vai além, contabiliza o ciclo bissexto, mas é um bicho muito mais complexo de projetar, montar e, principalmente, manter. O Annum mira o meio-termo ideal: oferece um cotidiano quase livre de ajustes, com custos e riscos de manutenção bem mais palatáveis que os de um perpétuo.
O motor: Calibre HWC-2 sobre a base Miyota 9000
O coração do Annum é o Calibre HWC-2, um automático baseado na arquitetura consagrada da série Miyota 9000. Essa base garante especificações modernas – 28.800 alternâncias/hora (4 Hz) para um segundeiro de varredura mais fluida e cerca de 42 horas de reserva de marcha – e um histórico de confiabilidade que tranquiliza qualquer relojoeiro de bairro
. Em cima dela, a Haim instala um módulo próprio de calendário anual e uma fase da Lua clássica, compondo a complicação que diferencia o modelo.
A graça não para na ficha técnica. Pelo fundo transparente, o HWC-2 se exibe com listras tipo Genebra em orientação radial, parafusos azulados e um coq de balanço enfeitado por filigrana dourada. O detalhe mais falado, contudo, é o tratamento do rotor. Em vez do semicírculo padrão (mesmo vazado), a marca usa uma massa oscilante de tungstênio dourado acoplada a um disco transparente. O resultado visual é delicioso: parece um rotor periférico, circulando pelas bordas e deixando livres as pontes e platinas para quem gosta de ficar namorando o movimento. É um truque inteligente que entrega espetáculo sem sacrificar a robustez do conjunto.
Caixa, ergonomia e comandos
A caixa em aço escovado e polido mede 38 mm de diâmetro por 12 mm de espessura, com lug-to-lug de 45 mm e entreasas de 20 mm. 
As asas reinterpretam, em linguagem contemporânea, o estilo Cornes de Vache dos relógios vintage, criando uma presença marcante sem exageros. Na frente, cristal de safira plano com camadas múltiplas de antirreflexo; nas laterais, coroa assinada e quatro botões de correção discretos para ajustar as indicações do calendário e da Lua. A resistência à água é de 30 metros – suficiente para a vida de escritório, chuva e lavatório, mas não é um relógio para piscina.
Três mostradores, três humores
No lançamento, o Annum chega com três opções: Dark Cobalt, Stone White e Fumée. Dark Cobalt e Stone White são clássicos na construção: anel externo com textura granulada e um centro com guilloché usinado em CNC, índices aplicados limpos e janelas de calendário cuidadosamente emolduradas. O Fumée vai para outro lado: mostrador translúcido em PVC fumê que revela o módulo do calendário logo ali, sob a superfície. É a versão conversa-garantida do trio – vai dividir opiniões, como todo mostrador que toma partido estético sem pedir licença.
Todos os modelos vêm com pulseiras artesanais de duas peças, em couro francês Epsom, com cores que dialogam com o mostrador: cinza-escuro, azul ou cinza-claro. O conjunto reforça o tom mais refinado do relógio, embora um bracelete integrado e bem desenhado, se aparecer no futuro, deva ampliar ainda mais o apelo para quem vive “no aço”.
Na mão e no pulso
Em foto, a lateral pode parecer um pouco “reta” demais. No pulso, a história muda: com 12 mm de altura e 38 mm de diâmetro, o Annum fica assentado, centrado, sem sobrar. Os 45 mm de lug-to-lug ajudam a evitar a sensação de relógio-topo de pulso, e o desenho curvado das asas abraça a anatomia. Os botões de correção são discretos o bastante para não enganchar na manga e ainda assim usáveis sem palito de dente, desde que o dono aprenda a ordem correta de ajustes – algo comum a quase todo calendário com corretores.
Preço, contexto e o momento dos microbrands
A discussão “microbrand versus marcas tradicionais” costuma ser barulhenta
. Sim, desenvolver, industrializar e dar suporte global a complicações complexas custa caro – e não é mera conversa de marketing. Mas também é verdade que a cadeia de suprimentos de hoje, somada a decisões de engenharia mais pragmáticas, permite levar complicações relevantes a valores antes impensáveis. O Annum é um caso didático. O preço oficial é de US$ 2.149,99, com reserva antecipada a US$ 1.649,99 (a Haim não cravou por quanto tempo esse preço fica no ar). As encomendas abrem em 7 de novembro de 2025. Na prateleira dos calendários anuais, isso o coloca solidamente no campo “acessível” sem esquecer acabamento, coerência estética e usabilidade.
Outro ponto a favor é a base Miyota: a disponibilidade de peças e a familiaridade das bancadas com a série 9000 tendem a simplificar a vida do proprietário quando chegar a hora de revisão. Claro, paira a pergunta inevitável sobre o módulo de calendário – quem dá manutenção nele daqui a 5, 7, 10 anos – , mas é razoável supor que documentação técnica e treinamento de parceiros resolvam essa ansiedade ao longo do tempo.
Críticas justas e lista de desejos
Não existe relógio perfeito. Alguns leitores vão achar que nenhum dos três mostradores “pega pelo coração” – pediriam cores mais ousadas ou texturas mais dramáticas. A resistência à água de 30 m é, literalmente, para a vida civil. E a ausência de bracelete dedicado no lançamento deixa um lugar vazio no pacote, ainda que a pulseira em couro seja muito boa. Por fim, como todo calendário com corretores, exige disciplina do dono para ajustar sem bagunçar as indicações.
Posto isso, o que a Haim realizou aqui é digno de nota. O salto de acabamento que se vê pelo fundo transparente é claro, a complicação agrega valor prático ao dia a dia, e o conjunto de dimensões acerta aquele ponto “coringa” que vai do casual arrumado ao social sem fazer esforço. Para uma marca que começou chamando atenção com cronógrafos de alma Sea-Gull, o Annum soa como uma declaração de maturidade: dá para brincar com complicações de gente grande e continuar falando a língua do usuário real.
Especificações principais
- Movimento: Calibre HWC-2 (base Miyota série 9000), automático, 28.800 a/h (4 Hz), ~42 h de reserva, calendário anual e fase da Lua
- Caixa: aço inox, 38 mm de diâmetro, 12 mm de espessura, 45 mm lug-to-lug, 20 mm entreasas
- Cristal: safira plano com tratamento antirreflexo em múltiplas camadas
- Resistência à água: 30 m
- Funções: horas, minutos, segundos; dia, data e mês (calendário anual); fase da Lua
- Mostradores: Dark Cobalt; Stone White; Fumée (translúcido fumê em PVC)
- Pulseiras: couro Epsom artesanal, cores combinando com o mostrador
- Preço e disponibilidade: US$ 2.149,99 (retail); US$ 1.649,99 (reserva antecipada); pedidos a partir de 7/11/2025
Veredito
O Haim Annum não inaugura a ideia de calendário anual fora dos grandes nomes suíços, mas é um dos poucos exemplos, no universo dos microbrands, que equilibra ambição, acabamento e uso real. É um relógio pensado por entusiastas: do truque do rotor “flutuante” ao desenho das asas, passando pela escolha de um tamanho que conversa com tendências e com conforto. Se algum dos mostradores falar com você e 30 m de água não forem problema, este é um marco de 2025 – a prova de que pequenas casas podem, sim, entregar complicações relevantes sem perder a noção.
1 comentário
Curti a ousadia da Haim. Lembro dos primeiros cronos com Sea-Gull e isso aqui é outro nível. Asas lindas; mostradores poderiam ousar mais