O Galaxy S26 ficou a um passo de virar um ícone, mas a Samsung preferiu a cartilha da previsibilidade. Desde 2020 a marca repete a fórmula de três modelos – básico, Plus e Ultra – e, em 2026, nada muda. Some a isso a volta, ainda que parcial, do seu chip próprio, o Exynos, e temos uma estratégia que privilegia escala e segurança. 
Os números devem sorrir (fala-se em algo na casa dos 35 milhões de unidades), só que a sensação é de oportunidade perdida: esta geração poderia ter redesenhado o que esperamos de um “topo de linha para a maioria”.
O básico que merecia virar protagonista
Durante meses, rumores sugeriram que a Samsung trocaria a versão de entrada por um Pro. Não seria apenas rebatizar o básico, mas transformá-lo no melhor para quase todo mundo. Hoje, em praticamente todas as marcas, o modelo base carrega a meta de volume, porém vive à sombra do “verdadeiro” flagship. Um Galaxy S26 Pro com ambição mudaria o jogo, deixando claro que o centro da linha é o coração da experiência – e não um degrau tímido antes do Ultra.
Como seria esse Pro dos sonhos, mas pé no chão? Uma câmera principal com pipeline de imagem herdado do Ultra, teleobjetiva que não pareça figurante, e processamento voltado a consistência em qualquer luz. Tela LTPO de 120 Hz descendo a 1 Hz para economizar, bateria pensada para maratonas de vídeos curtos e mensagens, acabamento que passa confiança sem precisar de capa no primeiro dia. Feche o pacote com sete anos de atualizações, backup dispositivo–nuvem que não assusta, e recursos de IA rodando no aparelho para não depender do 4G/5G. Mais do que ficha técnica, é uma declaração de prioridades: o meio da linha como o lugar onde tudo dá certo.
O impasse do Plus: maior, mas pra quê?
O Plus ocupa um limbo desconfortável: quase sempre é o mesmo aparelho do básico, só que maior. Para quem topa gastar um pouco mais, a lógica costuma empurrar direto para o Ultra, onde moram as exclusividades. Houve, sim, a discussão interna de aposentar o Plus e lançar um Edge – mais fino, com linguagem de design marcante e barra de câmeras horizontal seguindo a tendência. A ideia esfriou ao esbarrar em vendas mornas de aparelhos “fashion-first” (vide o S25 Edge e o iPhone Air). Resultado: o Plus sobreviveu.
O problema é que redundância não cria amor. Se o Plus continuar sendo apenas “S26, só que maior”, seguirá como a compra mais descartável da trinca. Já um Edge bem resolvido poderia ser a peça de passarela da linha – aquele celular que se reconhece de longe. A família ficaria clara: Ultra como a máquina maximalista, Pro como o herói padrão, e Edge como objeto de desejo. Três nomes, três motivos distintos para existir, sem pisar no calo um do outro.
Exynos está de volta: estratégia ou nova loteria?
Depois de um ciclo dominado pela Qualcomm – com o Galaxy S25 chegando a 100% Snapdragon – , a Samsung deve equipar pelo menos um quarto dos S26 com o Exynos 2600. No papel, o chip promete desempenho no nível do Snapdragon 8 Elite Gen 5 e operação mais fria que a geração problematizada no S22. Isso ataca duas queixas antigas: calor e queda de performance prolongada.
Só que percepção pesa. Executivos da Qualcomm vêm repetindo que algo como 75% de participação em Galaxy é o novo piso, com espaço para mais quando tudo dá certo. Trazer o Exynos de volta dá à Samsung flexibilidade de suprimento e controle de custos, mas reabre a ferida da loteria regional: o consumidor paga preço de topo e, por geografia, pode receber um chip que entrega menos quadros sustentados em jogos ou reduz o brilho mais cedo para segurar a temperatura. Se o preço final não reflete essa economia, o ganho vira margem – não valor para o usuário.
Preço, valor e a história que o produto conta
É provável que a marca esteja usando o Exynos para amortecer pressões de custo e manter o S26 no mesmo patamar de preço “psicológico”. Mas valor não é aritmética pura: é narrativa. Enquanto concorrentes vendem experiência consistente em qualquer mercado, a Samsung arrisca contar uma história de variáveis invisíveis ao comprador. Por isso a ideia do S26 Pro como “padrão ouro” era tão forte: deslocaria a conversa de “qual chip veio?” para “qual identidade te atende melhor?”.
Como seria um lineup realmente icônico
- Galaxy S26 Pro (o herói do dia a dia): menos lentes, mais consistência; tela LTPO; bateria grande com recarga de verdade; pegada segura; câmera com mesma ciência de cor do Ultra. O celular que acerta o básico – e o avançado – sem drama.
- Galaxy S26 Edge (o statement de design): visivelmente mais fino, barra de câmeras horizontal, microcurvas sem toques acidentais e eficiência que compensa uma bateria menor. Aquele que você coloca na mesa e todo mundo nota.
- Galaxy S26 Ultra (o maximalista): sensor maior e zoom óptico mais longo, controles de vídeo “pro” nativos, S Pen com usos que vão além de anotações e o melhor desempenho sustentado para criadores e gamers.
Em comum, a trinca traria sete anos de updates, recursos de IA idênticos e tratamento de imagem consistente para que sua foto “tenha cara de Samsung” independente do preço. Isso é construir família, não apenas uma escadinha de status.
Enquanto isso, os rivais…
As linhas iPhone 17 e Pixel 10 dobraram em seus pontos fortes: posicionamento cristalino, degraus simples de explicar, escolhas sem pegadinha. A rota segura da Samsung deve evitar sustos e, muito provavelmente, entregar ótimas vendas. Porém, o “momento cultural” costuma sorrir para quem transforma o modelo do meio no mais desejado – não apenas no “bom o bastante”.
Veredito: aparelhos excelentes, escolhas contidas
O Galaxy S26 tem tudo para ser ótimo – talvez excelente – , mas não o ponto de virada que parecia possível. Um Pro no lugar do básico seria um recado: a maioria merece o pacote completo por padrão. Um Edge no lugar do Plus daria um símbolo visual à família. E uma estratégia de silício sem ruído acalmaria o usuário antes que a ansiedade aparecesse. Em vez disso, ficamos com uma coleção que marca todos os checkboxes, bate metas e mantém a concorrência alerta – sem obrigá-la a repensar nada.
Há anos de reconstrução e há anos de polimento. O S26 é polimento puro. Vai vender. Vai agradar. Mas, em um ciclo que pedia reinvenção, a Samsung escolheu o seguro. O status de ícone… fica para a próxima.