A temporada de vazamentos está pegando fogo e, no centro da conversa, está a próxima família Galaxy S26. No papel, o Exynos 2600 parece um monstro de imagem móvel: fala-se em fotos de 320 MP e vídeo 8K a 60 fps com HDR10+. Ainda assim, os rumores apontam que o Galaxy S26 Ultra deve chegar com um pacote de câmera mais pé-no-chão. 
A pergunta é inevitável: por que segurar recursos se o chip tem sobra de fôlego? A resposta passa por arquitetura de imagem, estratégia de produto e, principalmente, consistência entre versões vendidas em mercados diferentes.
O que o silício promete: ISP e NPU atuando como um só
Segundo fontes do setor, a Samsung refez o pipeline de captura do zero. Em vez de um ISP que processa sinais e um NPU que entra depois para “salpicar IA”, o stack do Exynos 2600 funciona como um único trilho ISP–NPU. A ideia é que renderização em nível de console, sintese de imagem por IA e controles RAW de nível profissional trabalhem juntos, sem gargalos entre etapas. Fabricado no processo GAA de 2 nm, o ISP multicore tem apetite para dados gigantes: até 320 MP de um único sensor ou 108 MP de três sensores simultâneos, além de lidar com quatro fluxos ao mesmo tempo (principal, ultrawide, tele e profundidade) sem lag de obturador.
Essa simultaneidade destrava HDR em pilha com zero atraso e mapeamento de tons com noção de profundidade em tempo real. O suporte a até sete entradas MIPI abre espaço para arranjos modulares e dobráveis com câmeras internas e externas operando de forma coordenada. O bloco de HDR conseguiria fundir até cinco exposições e empurrar RAW de 14 bits pelo pipeline, preservando cor, textura e gradientes, principalmente em baixa luz, onde todo ruído aparece.
No vídeo, a planilha de capacidades é ambiciosa: 8K/60 com HDR10+ e 4K/120. Debaixo disso, fala-se em largura de banda interna na casa de 1,8 TB/s e ferramentas de IA como segmentação de cena, super-resolução de zoom e curvas de tom por objeto (pele, céu, vegetação, tecidos), evitando aquele look de HDR agressivo que estoura contornos.
O que o aparelho deve entregar: S26 Ultra jogando pelo seguro
Agora vem a parte prática. Os vazamentos sobre o Galaxy S26 Ultra indicam uma câmera “conhecida, porém lapidada”. O conjunto esperado inclui 200 MP ISOCELL HP2 como principal, 50 MP ISOCELL JN3 ou Sony IMX564 no ultrawide, 50 MP Sony IMX854 no periscópio 5×, 12 MP Sony IMX874 para selfies e um novo tele 3× de 12 MP ISOCELL 3LD (S5K3LD) – avanço em relação ao 3× de 10 MP do S25 Ultra. Há também burburinho sobre aberturas mais amplas na câmera principal de 200 MP e no periscópio 5×, o que costuma render fotos mais limpas em ambientes internos e à noite.
Daí surgem as piadas inevitáveis: “uma foto de 320 MP e adeus memória”, “vou fotografar uma formiga em Andrômeda do meu quintal”. Brincadeiras à parte, não deixa de ser verdade que megapixels extremos e RAW de 14 bits inflacionam arquivos, encurtam rajadas e esquentam o hardware. A impressão é que a Samsung está priorizando usabilidade diária – tempo de disparo, foco coerente, HDR mais natural – em vez de habilitar todas as caixas do quadro de especificações logo no lançamento.
O porquê de não ligar tudo: paridade entre Exynos e Snapdragon
O pano de fundo é a clássica estratégia de dois chipsets. Sinais de mercado apontam que o Snapdragon 8 Elite Gen 5 equipará a maior parte (cerca de três quartos) da linha S26 globalmente, com o Exynos 2600 cobrindo o restante. Aqui mora o ponto sensível: a indicação atual é de que o Snapdragon não oferece 8K a 60 fps. Para evitar que um país receba recursos “premium” e outro não – o que complica testes, marketing e suporte – a Samsung tende a padronizar a experiência. Traduzindo: ainda que o Exynos comporte 8K60, é plausível que a família inteira fique em 8K30 por coerência de portfólio.
Software como diferencial: Camera Assistant em foco
Mesmo sem a pirotecnia dos 320 MP liberada, muita melhoria chega via software. O app Camera Assistant deve oferecer saída padrão em 24 MP (principal e retrato), um meio-termo excelente entre detalhe e peso de arquivo. O pipeline Adaptive Pixels combina múltiplos quadros de resolução menor para domar o ruído e realçar microcontraste em interiores. Para quem gosta de controle, haverá um slider de velocidade de foco no foto e no vídeo – dá para escolher transições mais suaves ou travas mais “grudentas”. E, se você acha o HDR10+ “dramático” demais para tons de pele, poderá desligá-lo e usar HDR comum na gravação.
Carregamento pensado para a vida real
Outro ajuste pé-no-chão é a curva de carregamento em etapas: cerca de 55 W nos primeiros ~15% da carga e depois 45 W até algo perto de 70%. É mais agressivo que o atual 45 W, que encosta no pico por pouco tempo e cai rápido para ~34 W. Na prática, isso encurta “pit stops” de 10 minutos sem judiar da bateria quando ela já está quente.
O que isso significa para quem vai comprar
Do ponto de vista editorial, não é uma história de “Exynos desperdiçado”, e sim de disciplina de produto. O 2600 tem reserva para crescer – 320 MP, 8K60, sete entradas MIPI – , mas o S26 Ultra parece mirar onde importa todos os dias: menos ruído em ISO médio, HDR sem halo, tele 3× mais nítido graças ao sensor de 12 MP, capturas mais seguras em luz difícil com aberturas maiores, e um pipeline ISP–NPU que reduz latência e inconsistências de cor. Se amanhã a Samsung decidir liberar modos mais pesados por firmware – ou guardá-los para uma edição especial – o gargalo não será o chip.
E as reações da comunidade fazem sentido. Resoluções absurdas comem armazenamento; zoom extremo depende de ótica, estabilização e até atmosfera. Na vida real, ganhos grandes vêm de binning bem afinado, abertura mais larga, balanço de branco fiel e controle de microcontraste, não de um botão “320 MP” escondido no menu. Sob essa lente, a cautela parece menos “subaproveitamento” e mais uma escolha consciente: menos corrida de números, mais fotos boas sem esforço.
Nota da redação: especificações e componentes citados refletem o estado das informações no início de novembro e podem mudar na versão final de software.