O app de telefone é, para muita gente, a parte mais sem graça do smartphone. Você abre, vê a lista de contatos, retorna uma chamada perdida, escuta correio de voz e pronto. 
Nada de inovação, nada de surpresa. Mas no ecossistema do Google Pixel isso está mudando: o Phone by Google vem ganhando funções inteligentes há algum tempo, e agora um novo recurso escondido no código sugere que até uma ligação comum pode ficar mais clara, mais contextual e muito mais difícil de ignorar.
Em uma análise da versão beta 201 do aplicativo Phone by Google, foram encontrados trechos de código que citam um recurso chamado Expressive Calling, com codinome interno expresso. O Google ainda não anunciou nada oficialmente, mas a descrição dessas strings deixa claro o objetivo: permitir que quem liga informe, antes mesmo de a chamada ser atendida, qual é o motivo da ligação e o nível de urgência. Em vez de só aparecer o número e o nome do contato, o destinatário veria também um pequeno rótulo que explica o contexto.
A ideia central do Expressive Calling é simples, porém muito atual: nem todas as ligações são iguais. Uma ligação para matar a saudade de um amigo não tem o mesmo peso de uma ligação do trabalho em plena segunda-feira de manhã. Ao oferecer rótulos rápidos, o Phone by Google ajuda a traduzir essa diferença em algo visível na tela. Assim, antes de atender, a pessoa já entende se é algo leve, algo rápido ou algo que realmente não pode esperar.
De acordo com o que foi encontrado no código, o Expressive Calling deve trazer pelo menos quatro opções pré-definidas para quem está fazendo a chamada:
- Colocar a conversa em dia (Catch up)
- Tenho novidades para contar (News to share)
- É só uma pergunta rápida (Quick question)
- É urgente! (It’s urgent!)
Esses pequenos rótulos mudam bastante a dinâmica social das ligações. Se o contato vê Colocar a conversa em dia, entende que é um papo tranquilo, que pode ser retomado mais tarde. Se aparece É só uma pergunta rápida, a pessoa tende a acreditar que o assunto é curto e talvez atenda mesmo em um intervalo entre reuniões. Já quando surge É urgente!, o recado é direto: vale a pena interromper o que estiver fazendo para pelo menos checar quem está ligando e por quê.
O mais interessante é que, segundo o vazamento, o rótulo de urgência não é só decorativo. Ligações marcadas como urgentes devem ganhar um som diferenciado na hora em que o telefone toca, chamando mais atenção no meio de tantas notificações. Além disso, há indicações de que uma chamada marcada como urgente pode furar o bloqueio do modo Não perturbe, aquele recurso que silencia ligações e alertas em determinados horários ou situações. Para quem vive com o celular em modo silencioso ou com perfis de foco ativados, isso pode ser a diferença entre perder uma ligação importante da família e atender a tempo.
O Expressive Calling também parece continuar útil mesmo quando a chamada não é atendida. Se a pessoa não pegar o telefone durante uma ligação marcada como urgente, o sistema deverá exibir uma notificação clara de chamada urgente perdida, em vez do aviso genérico de chamada perdida que se mistura fácil no histórico. Junto com a mensagem mostrada na tela durante o toque, isso aumenta bastante a chance de o usuário perceber que se tratava de algo mais sério e retornar a ligação ainda naquele momento.
Para que tudo isso funcione direito, o Phone by Google deve solicitar permissão de acesso a SMS. Aparentemente, esse acesso é usado para transportar parte das informações que aparecem no visor de chamada e nas notificações, integrando o recurso de forma mais profunda ao Android. Para quem se preocupa com privacidade, é um lembrete importante: recursos inteligentes costumam exigir mais permissões, e vale sempre olhar com cuidado o que o app está pedindo antes de aceitar.
Outra questão que chama a atenção é em quais aparelhos esse recurso vai aparecer. Pelo histórico do Google, a aposta mais segura é que o Expressive Calling estreie como exclusividade dos celulares Google Pixel, pelo menos no início. Não seria surpresa: há anos a linha Pixel serve como vitrine de novidades do Phone by Google, como proteções avançadas contra spam, assistente nas ligações, filtragem automática e recursos que chegam primeiro nos aparelhos do próprio Google.
Ao mesmo tempo, quem acompanha o desenvolvimento do Android sabe que nem toda função encontrada em código vira produto final. Muita coisa é testada, rebatizada, adiada ou simplesmente abandonada. O Expressive Calling pode chegar apenas a alguns modelos Pixel, ser liberado mais tarde para outros aparelhos Android, mudar totalmente de nome ou até desaparecer sem nunca ser lançado. Por enquanto, tudo o que temos é um vislumbre de como o Google está pensando o futuro das ligações.
Se virar realidade, porém, o recurso tem potencial para atacar um problema bem atual: o medo de atender telefone. Com tanto telemarketing, golpes e ligações fora de hora, muita gente simplesmente ignora chamadas, mesmo quando o número é conhecido. Ver um rótulo como É urgente! ou É só uma pergunta rápida pode reduzir a ansiedade, dar mais transparência e ajudar a separar, de forma rápida, o que realmente importa do que pode esperar.
Dá para imaginar facilmente situações do dia a dia em que isso faz diferença. Um pai tentando falar com a filha tarde da noite, um médico retornando com um resultado importante, um entregador perdido na portaria. Em todos esses casos, um toque especial, a indicação de urgência na tela e a notificação de chamada urgente perdida evitam que esse contato crítico se perca no meio do ruído digital.
Já para conversas leves, como Colocar a conversa em dia ou Tenho novidades para contar, o Expressive Calling deixa claro que ninguém está tentando invadir o seu tempo com drama ou pressão. O resultado é uma experiência mais honesta para quem liga e para quem recebe, com menos surpresa desagradável e mais contexto.
No fim das contas, o Expressive Calling encaixa bem na tendência de transformar o smartphone em algo mais sensível ao contexto, e não só em um aparelho cheio de funções soltas. Não é um recurso tão chamativo quanto uma câmera nova ou um design reformulado, mas exatamente esse tipo de detalhe é o que acaba mudando a sensação de uso no dia a dia. Se o Google realmente levar a ideia adiante e a mantiver como destaque nos Pixel, os donos desses aparelhos vão ter mais um motivo para dizer que a experiência de telefone deles é diferente da de um Android comum.
1 comentário
Uso Não perturbe o dia inteiro, então conseguir furar só quando é urgente faz bastante sentido pra mim