A Epic Games resolveu sacudir de vez o universo de Fortnite e anunciou uma mudança que pode impactar não só os jogadores, mas também o mercado de jogos criados pela comunidade. Pela primeira vez, criadores terão a chance de vender seus próprios itens dentro da plataforma e receber uma fatia maior do que o oferecido pelo rival direto, Roblox. A novidade chega em um momento delicado para o battle royale: o modo clássico perdeu força nos últimos meses, enquanto o Roblox ganhou impulso com sucessos virais como Grow a Garden e Steal a Brainrot.
A venda de itens marca uma guinada significativa na estratégia de Fortnite. 
Até agora, a base do modelo de negócios girava em torno dos passes de batalha sazonais, eventos massivos e colaborações com franquias como Marvel ou Star Wars. Mas a Epic quer deixar claro que o futuro passa pelas mãos dos criadores. Segundo a empresa, eles vão receber 50% do valor em V-Bucks das compras feitas em suas experiências após as taxas de loja e plataforma. Isso equivale a 37% – já mais do que os 25% do Roblox. E, para atrair ainda mais, até dezembro de 2026 a taxa será dobrada: 74% de retorno no primeiro ano.
O recado é direto: publique no Fortnite e ganhe mais por cada dólar gasto do que no Roblox. A tática não é nova: a Epic já havia usado essa mesma estratégia quando tentou tirar desenvolvedores da Steam para a Epic Games Store, oferecendo fatias mais generosas. Porém, tudo depende da base de jogadores. Enquanto Fortnite promete margens melhores, o Roblox ainda conta com um público muito maior – e isso pode fazer diferença no volume final de receita.
A Epic também reformulou o programa de pagamentos por engajamento. Agora, quem atrair novos jogadores ou reconquistar antigos terá recompensas adicionais. A ideia é clara: usar o conteúdo da comunidade não apenas como entretenimento extra, mas como motor de crescimento. Para reforçar isso, o game vai ganhar um bloco de destaque pago na aba Discover, onde criadores poderão investir para promover seus modos. Toda a receita gerada por essa vitrine será revertida aos criadores até 2026; depois disso, metade ficará com a Epic para bancar servidores, segurança e pesquisa.
Outra novidade que chama atenção é o lançamento do chamado “thin client”, uma versão reduzida do Fortnite. No PC e no celular, o jogo poderá ser baixado em formato leve, trazendo apenas o modo Blitz Royale e o acesso aos jogos criados pela comunidade. Quem quiser experimentar o battle royale tradicional terá que baixar o pacote completo separadamente. É uma jogada inteligente: facilita o acesso rápido a tendências virais como Steal a Brainrot e, ao mesmo tempo, sinaliza que a prioridade não está mais apenas no conteúdo feito pela Epic.
Fortnite já passou por várias metamorfoses: começou como um jogo de defesa contra zumbis, virou um fenômeno de battle royale e hoje se posiciona como plataforma social e criativa. A nova guinada pode ser a mais radical até agora. O battle royale deve continuar existindo – afinal, ainda é lucrativo com passes e eventos ao vivo – , mas está ficando claro que o foco será cada vez mais nos criadores. A Epic aposta que, dando mais poder e retorno financeiro à comunidade, conseguirá disputar espaço direto com o Roblox.
A própria empresa admite que vem operando no prejuízo, investindo pesado em estrutura e inovação. Redistribuir receita é um risco, mas também um voto de confiança no poder da comunidade. Para os jogadores, isso significa uma avalanche de experiências novas sem downloads gigantescos. Para os criadores, é a chance de ganhar de verdade com cosméticos, sem cair na armadilha dos modelos pay-to-win. O sucesso, no entanto, vai depender da capacidade da Epic em manter o ambiente seguro e bem moderado – algo que o Roblox ainda enfrenta dificuldades.
O que é certo é que o Fortnite está entrando em uma nova fase. Mais do que um jogo, está se tornando um ecossistema criativo, onde o talento da comunidade pode definir o futuro tanto quanto as ideias da própria Epic.