A Apple entrou no período mais quente do varejo com um velho conhecido de quem vende muito: a demanda pelo novo iPhone 17 está tão forte que a empresa ainda não consegue produzir rápido o suficiente, principalmente o modelo base. 
Os últimos dados do iPhone 17 Product Availability Tracker, do JPMorgan, mostram que a linha teve um desempenho melhor na semana da Black Friday do que a família iPhone 16 no mesmo período do ano passado – e isso aparece diretamente nos prazos de entrega que os consumidores estão vendo nas lojas e no site.
Segundo o relatório, o tempo médio de espera para receber qualquer modelo da linha iPhone 17 aumentou em cerca de um dia na comparação com a semana anterior. Parece pouco quando olhamos isoladamente, mas o número ganha peso quando comparado ao ano passado: hoje a espera média gira em torno de seis dias, contra aproximadamente quatro dias no ciclo do iPhone 16. Para analistas, esse tipo de alongamento é um sinal clássico de que o apetite do público está acima do planejado, e não apenas de que houve algum tropeço logístico.
Black Friday confirma: o ciclo do iPhone 17 está mais quente que o do iPhone 16
A semana da Black Friday é o grande teste de estresse para qualquer fabricante de smartphone. No caso da Apple, 2024 (ou a temporada do iPhone 17) deixou claro que a nova geração emplacou melhor que a anterior. Os prazos mais longos aparecem em diversos mercados importantes, o que indica que as linhas de produção estão rodando forte, mas mesmo assim não conseguem acompanhar a velocidade dos pedidos.
No ciclo do iPhone 16, a pressão sobre os prazos começou a ceder mais rápido à medida que novas remessas eram distribuídas. Agora, com o iPhone 17, o comportamento é outro: mesmo com capacidade extra, o tempo de espera continua mais alto. Isso mostra que muita gente está antecipando o upgrade e fechando a compra ainda no fim de ano, em vez de deixar para o primeiro trimestre seguinte, comprimindo a curva de demanda logo na largada da geração.
Na prática, isso obriga a Apple a fazer malabarismo com estoque, priorizando certos países, operadoras e varejistas estratégicos. E, claro, quem está do outro lado da tela acompanhando a previsão de entrega vê datas sendo empurradas um pouco mais para frente a cada semana.
O iPhone 17 “normal” virou o herói – e o gargalo – da linha
No centro dessa história toda está o iPhone 17 padrão, o modelo base. Ele é, ao mesmo tempo, o grande herói de vendas e o principal gargalo da Apple neste fim de ano. O tracker do JPMorgan indica que, em vários mercados, os prazos de entrega do modelo base já entraram de forma consistente na casa dos dois dígitos em dias. Ou seja, para muita gente, a expectativa já é de esperar semanas, não apenas alguns dias.
Isso não é coincidência. Tradicionalmente, o modelo “não Pro” é o cavalo de batalha da linha: concentra o grosso das vendas por oferecer o pacote mais equilibrado entre preço, novidades e longevidade. O iPhone 17 segue essa fórmula. Ele traz os principais avanços de hardware e software, o design atualizado e a experiência de iOS que as pessoas procuram, mas com um preço abaixo dos modelos Pro e Pro Max. Para famílias que compram vários aparelhos de uma vez, para quem está saindo de um iPhone bem antigo ou migrando do Android, esse costuma ser o ponto ideal.
Os demais aparelhos também sentem a pressão, só que em menor grau. Os prazos do iPhone Air e do iPhone 17 Pro subiram cerca de dois dias em relação à semana anterior, enquanto o topo de linha iPhone 17 Pro Max registrou aumento de aproximadamente um dia. Para efeito de comparação, no mesmo período do ciclo anterior, o iPhone 16 Pro Max teve alta de dois dias nos prazos de entrega. Ou seja: a família toda está indo bem, mas o grande imã de demanda é claramente o iPhone 17 base, que está esticando ao máximo a capacidade das fábricas.
A força da China está ajudando a esgotar estoques
Uma parte importante dessa pressão vem da China, mercado que há anos é decisivo para a estratégia global da Apple. De acordo com a Counterpoint Research, em outubro os iPhones representaram cerca de um quarto de todos os smartphones vendidos no país – um patamar que a Apple só havia alcançado uma vez antes, em 2022.
No mesmo mês, o mercado chinês de smartphones como um todo cresceu cerca de 8% na comparação anual, o que indica uma retomada depois de um período mais fraco. Só que a Apple cresceu muito acima disso: as vendas de iPhones subiram 37% ano contra ano, e aproximadamente 80% desses aparelhos vendidos eram da nova linha iPhone 17. Na prática, o consumidor chinês está adotando a nova geração em massa, e isso puxa um volume enorme de unidades justamente dos modelos que já estão sob pressão em outros países.
Quando um mercado do tamanho da China decide abraçar a geração mais recente com essa intensidade, o impacto no restante do mundo é imediato. Lotes que poderiam estar indo para América Latina ou Europa são realocados para atender à demanda chinesa, e a Apple precisa equilibrar promoções, acordos com operadoras e disponibilidade regional quase em tempo real. Resultado: aquele iPhone 17 que você achava que chegaria rápido pode, de repente, ter a entrega empurrada alguns dias para frente.
Apple perto de tomar a coroa global dos smartphones
Os números de demanda não afetam apenas o consumidor que está esperando o aparelho; eles mexem com o ranking global de fabricantes. Outro relatório da Counterpoint Research, divulgado no fim de novembro, aponta que a Apple deve encerrar o ano como líder mundial em participação de mercado em smartphones, algo que não acontecia há mais de uma década. A expectativa é que a empresa deixe a Samsung na vice-liderança pela primeira vez em muitos anos.
De acordo com as projeções, as remessas de iPhones devem crescer cerca de 10% em relação ao ano anterior, o que daria à Apple uma fatia estimada de 19,4% do mercado global de smartphones – a maior entre todos os fabricantes. Esse movimento conversa com uma tendência mais ampla: as pessoas demoram mais para trocar de aparelho, mas quando trocam, tendem a escolher modelos mais caros, muitas vezes aproveitando parcelamento e programas de troca (trade-in). Nesse cenário, um ciclo forte como o do iPhone 17 funciona como motor para toda a estratégia da Apple, incluindo receitas com serviços, acessórios e assinatura de aplicativos.
Em outras palavras, cada nova geração bem-sucedida reforça o efeito da “cercadinha” da Apple: quanto mais dispositivos e serviços você tem no ecossistema, mais difícil é voltar atrás e mudar de plataforma.
O que esses prazos longos significam para consumidores e investidores
Para o consumidor comum, o efeito é bem concreto. Quem deixou para comprar o iPhone 17 base em cima da hora, como presente de fim de ano, pode se deparar com estoques baixos nas lojas físicas, poucas opções de cor ou armazenamento e datas de entrega que já invadem o início do próximo mês. Em muitos lugares, as combinações mais populares simplesmente entram em pré-venda prolongada, empurrando parte das pessoas para o iPhone Air ou para o iPhone 17 Pro, não porque elas necessariamente preferem, mas porque esses modelos chegam mais rápido.
Para o mercado financeiro, porém, o cenário é bem mais animador. Analistas acompanham de perto esses rastreadores de disponibilidade para tirar a “temperatura” do ciclo de um novo iPhone antes mesmo da Apple divulgar receitas e volumes oficiais. A situação atual se parece muito mais com o manual de um lançamento de sucesso do que com um problema estrutural de produção: há filas, sim, mas não a um ponto em que o comprador desista em massa da compra.
O quadro que se desenha é de uma Apple que acertou a mão no iPhone 17, viu a China voltar a comprar com força e, de quebra, se aproximou do primeiro lugar global em smartphones. O lado menos agradável é que o aparelho mais desejado da temporada também é aquele que está mais difícil de achar. Mas, do ponto de vista de quem investe na empresa, esse tipo de problema costuma ser o melhor dos mundos: indica um produto quente, um ecossistema cada vez mais forte e um concorrente direto – no caso, a Samsung – com motivos reais para se preocupar.