O criador de DayZ, Dean Hall, já viveu algumas revoluções tecnológicas – e vê o pânico atual em torno da inteligência artificial como algo bem familiar. Em entrevista sobre seu jogo de sobrevivência ICARUS, ele comparou o medo do público diante do avanço da IA com o que aconteceu quando o Google e a Wikipedia apareceram no final dos anos 1990. “Naquela época diziam que o Google ia matar o pensamento e que a Wikipedia destruiria o conhecimento. 
Hoje ninguém vive sem eles. A história se repete”, afirmou Hall.
Para ele, o debate sobre IA no mundo dos games segue o mesmo ciclo: primeiro o medo, depois a adaptação. “Independentemente do que façamos, a IA está aqui. Não dá pra fugir. A questão agora é aprender a lidar com o impacto”, disse. Enquanto gigantes como Microsoft, EA e Amazon investem pesado em automação e até demitem equipes humanas, a RocketWerkz, estúdio de Hall, prefere um equilíbrio entre tecnologia e artesanato digital.
Em ICARUS, tudo ainda é feito à mão. “Gosto de pensar que jogos são jogados, não fabricados. Nosso prazer é desenhar o mapa no quadro branco, construir montanhas, rios e cidades com cuidado humano. Isso não é um protesto contra IA, é só o nosso jeito de criar experiências autênticas”, explicou. Mesmo assim, ele admite que a equipe usa IA em outros projetos, especialmente para ajudar na codificação. “Treinamos o modelo com nosso código e o usamos como assistente técnico. Ele entende a estrutura e responde dúvidas rapidamente. Mas criar algo do zero? Ainda não chegamos lá.”
O debate, claro, não é exclusivo de Hall. Masahiro Sakurai, criador de Super Smash Bros., acredita que a IA pode tornar grandes produções mais gerenciáveis. Hideo Kojima, de Metal Gear e Death Stranding, vê a tecnologia como aliada, capaz de liberar os criadores das tarefas repetitivas para focar na parte artística. Já o espanhol Richard Pillosu, cofundador da Epictellers Entertainment, rejeita totalmente: “Não faz sentido usar IA em algo criativo”, disse.
Hall prefere um meio-termo. “A IA não é inimiga. É inevitável. A diferença está em como vamos usá-la”, defende. Sua visão reflete uma filosofia de décadas: desde o sucesso explosivo de DayZ até os experimentos mais recentes da RocketWerkz, ele sempre tratou a tecnologia como ferramenta – nunca como substituta da imaginação humana. “As máquinas podem ajudar, mas não podem sonhar”, resume.
Enquanto isso, Elon Musk entra na conversa com sua empresa xAI, prometendo lançar um jogo completamente criado por IA até o final do próximo ano. A ideia divide opiniões: alguns veem como o futuro inevitável dos games, outros como uma loucura de marketing. Mas ninguém duvida de que o ritmo das inovações está cada vez mais acelerado – e que o impacto sobre o mercado criativo será profundo.
Para Hall, no entanto, a essência dos jogos continuará humana. “Criamos mundos para que as pessoas sintam algo. Emoção não se programa, se constrói”, afirma. Ele acredita que a IA pode ser uma ferramenta poderosa, mas só se usada com responsabilidade. “Quando o Google e a Wikipedia chegaram, ampliaram o conhecimento humano em vez de destruí-lo. A IA pode fazer o mesmo – se formos sábios.”
No fim, sua mensagem é clara: a IA não é o fim da criatividade, mas o próximo grande teste para ela.