Crowsworn finalmente saiu do buraco negro de silêncio em que estava. 
Depois de anos aparecendo apenas em atualizações esparsas para os apoiadores, a metroidvania 2D da indie Mongoose Rodeo voltou aos holofotes no Xbox Partner Preview com um novo trailer de gameplay – e, junto com ele, a confirmação de que o jogo não ficará restrito ao PC. A aventura sombria inspirada em Bloodborne e Hollow Knight também está planejada para Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
Para quem acompanha o projeto desde o começo, esse não é só mais um vídeo bonito. Crowsworn se tornou um dos casos mais comentados de financiamento coletivo voltado a metroidvanias: arte totalmente desenhada à mão, animações fluidas, combate nervoso e uma estética gótica que, desde o primeiro teaser, gritou “isso tem potencial”. O novo trailer reforça essa impressão com sequências de esquivas rápidas, cortes precisos de foice e rajadas de magia em cenários cheios de agulhas de igreja, vielas tortas e florestas retorcidas.
Metroidvania de alma gótica e coração de hack and slash
As referências de Crowsworn saltam aos olhos. A cidade em ruínas, as torres pontiagudas e o protagonista mascarado remetem diretamente à melancolia sangrenta de Bloodborne. A forma como o mundo se encaixa, com túneis escondidos, rotas alternativas e inimigos estranhos à espreita, remete a Hollow Knight. E, quando o combate acelera, o espírito de Devil May Cry aparece: combos aéreos, transições suaves entre ataques corpo a corpo e disparos, finalizações estilosas e uma cadência que parece mais show de acrobacia do que simples troca de golpes.
A Mongoose Rodeo nunca se escondeu atrás dessas influências, mas insiste que o objetivo não é ser um “Frankenstein de referências”, e sim usar esses pilares como base para construir algo próprio. No trailer, isso aparece na agressividade do ritmo: os inimigos pressionam de vários lados, o herói é quase obrigado a ficar em movimento constante e os chefes parecem exigir leitura rápida de padrões, precisão e criatividade. Em vez de se apoiar apenas em dificuldade punitiva, Crowsworn quer que o jogador se sinta habilidoso e estiloso ao dominar o sistema.
De fenômeno no Kickstarter a promessa que não vai embora
A trajetória do jogo começou oficialmente em julho de 2021, quando a campanha no Kickstarter explodiu. Mais de 19 600 apoiadores colocaram dinheiro no projeto, que fechou com um total de CA $1 258 068 arrecadados. A meta inicial caiu em menos de três horas, abrindo espaço para metas extras, novas áreas, opções de combate e todo aquele pacote de promessas que costuma acompanhar campanhas extremamente bem-sucedidas.
Só que, depois do hype, veio a parte menos glamourosa: anos de desenvolvimento. Enquanto vários outros jogos financiados na mesma época já foram lançados e até esquecidos, Crowsworn foi avançando em ritmo constante, mas longe dos holofotes. Os apoiadores receberam atualizações exclusivas a cada alguns meses, mas quem só viu o anúncio original teve a sensação de que o jogo simplesmente sumiu. Não é à toa que muita gente brinca que esse já é o “Kickstarter mais antigo não entregue” da coleção – aquele projeto que você só lembra que apoiou quando tropeça em um e-mail perdido.
Fearanndal: um reino engolido pela maldição
No centro de tudo está Fearanndal, o mundo de Crowsworn. A sinopse oficial descreve um reino antes vibrante, hoje esmagado por uma maldição sombria. A humanidade praticamente desapareceu, e as ruas vazias foram tomadas por criaturas cegas, saídas de pesadelos. Igrejas abandonadas, vilas que parecem engolidas pela floresta, construções meio devoradas pela vegetação e pelo tempo criam um cenário perfeito para exploração metroidvania: cada esquina parece esconder um segredo, cada atalho leva a um pedaço esquecido da história.
É aquele tipo de estrutura que fãs do gênero reconhecem na hora: caminho que se bifurca, porta trancada que só abre depois de uma nova habilidade, rota alternativa para quem gosta de fuçar cada pixel do mapa. Em Fearanndal, cada novo poder não é só uma ferramenta de combate, mas uma chave que desbloqueia novas rotas e recontextualiza áreas antigas. O trailer mostra rapidamente templos cheios de figuras encapuzadas, vilarejos em ruínas tomada por fauna estranha e chefes enormes que parecem mais manifestações da própria maldição do que simples monstros.
PC, Switch, PS5 e Xbox: por que o anúncio de plataformas importa
Do ponto de vista prático, o momento mais importante do Xbox Partner Preview foi a confirmação oficial da lista de plataformas. O lançamento para PC já era esperado, mas agora está claro que Crowsworn também está vindo para Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Para um gênero que vive de precisão, memorização de padrões e replays, ter versões nativas nos consoles atuais faz muita diferença: tem gente que prefere jogar deitado no sofá, tem quem queira levar o jogo para qualquer lugar no modo portátil.
O novo trailer também parece o recorte mais generoso de gameplay que o público em geral viu até agora. Não é só um teaser com flashes rápidos: vemos trechos maiores de exploração, batalhas contra grupos de inimigos, interfaces, fragmentos de narrativa e, claro, combates contra chefes. Ainda falta o detalhe que todo mundo pergunta – uma janela de lançamento minimamente concreta – , mas a sensação é de que o projeto está, enfim, saindo da fase de promessa abstrata e se aproximando de algo palpável.
Entre a frustração e a esperança: por que Crowsworn ainda chama atenção
Passar anos esperando por um jogo financiado pela comunidade não é exatamente o sonho de nenhum apoiador. Alguns já fazem piada dizendo que Crowsworn virou o “curso intensivo de paciência” da vida gamer. Ao mesmo tempo, o fato de o nome do jogo ainda aparecer em debates, listas de desejos e threads nostálgicas mostra que o interesse não morreu. Poucas produções independentes conseguem ficar tanto tempo longe da mídia e, mesmo assim, provocar barulho quando reaparecem.
Se a Mongoose Rodeo conseguir realmente juntar a atmosfera opressiva de Bloodborne, a construção de mundo de Hollow Knight e o espetáculo de combate de Devil May Cry com ideias próprias, Crowsworn tem tudo para disputar espaço com os grandes nomes da metroidvania moderna, em vez de ser lembrado apenas como “aquele clone bem feito”. O novo trailer e a confirmação de plataformas não encerram a novela, mas sinalizam uma virada importante: o reino amaldiçoado de Fearanndal está cada vez mais próximo de sair da tela dos trailers e finalmente entrar na biblioteca de quem o acompanha desde 2021 – e de quem acabou de descobri-lo agora.