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NVIDIA zera participação na China – política, rivais locais e a aposta Blackwell

por ytools
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NVIDIA zera participação na China – política, rivais locais e a aposta Blackwell

Participação da NVIDIA na China chega a zero, diz Jensen Huang – entenda a mistura de política, concorrência local e a aposta em Blackwell

Jensen Huang costuma falar de linhas retas para explicar curvas exponenciais. A frase mais recente do CEO da NVIDIA é direta e dura: hoje, a participação da empresa no mercado chinês é, nas palavras dele, “zero”. O recuo não aconteceu da noite para o dia. Ele coincide com sucessivas rodadas de controles de exportação dos EUA, que foram se tornando mais rígidos justamente quando a demanda por IA generativa explodiu. Enquanto isso, Pequim acelerou a substituição tecnológica doméstica, empurrando grandes clientes para chips locais. Resultado: a janela pela qual a NVIDIA vendia A100 e H100 – produtos Ampere e Hopper – se fechou.

Huang ressalta que, no início do ciclo político anterior, o acesso ao mercado chinês ainda existia em escala. A cada atualização regulatória, porém, o espaço de produto encolhia. Para tentar preservar alguma presença, a empresa passou a desenhar versões específicas para a China, como o acelerador H20 para data centers e a RTX 5090D no varejo, ambas moldadas para respeitar as linhas vermelhas impostas pelas regras. Não era gambiarra: era engenharia de conformidade, com “binning” cuidadoso, limites de interconexão e travas de firmware para se manter abaixo de certos patamares de desempenho.

Mas reduzir a narrativa à política de Washington seria incompleto. A resposta de Pequim veio em paralelo: documentos de orientação e a própria lógica de compras do setor público e das big techs chinesas passaram a favorecer fornecedores domésticos. Com isso, criou-se um ciclo de realimentação. Quanto mais as restrições freavam os chips mais potentes da NVIDIA, mais os ecossistemas locais investiam em alternativas – e quanto mais essas alternativas amadureciam, menor ficava o incentivo para brigar por versões “capadas” vindas de fora.

Em termos financeiros, o custo de oportunidade é gigantesco. Huang já projetou que, sem barreiras, a China poderia valer dezenas de bilhões de dólares por ano para a companhia hoje e muito mais até o fim da década. Dá para discutir o número exato, mas não a direção: a demanda por computação de IA em nuvem, treinamento de fundações e inferência corporativa segue crescendo. O problema não é a procura; é a endereçabilidade desse mercado sob as regras atuais.

Vale lembrar: a trajetória regulatória não respeita fronteiras partidárias. Ondas de controle foram definidas e reforçadas em diferentes administrações, com pausas e retomadas de envios conforme a orientação mudava. A cada ciclo, a NVIDIA tentava ajustar a oferta. No consumidor, essa lógica gerou frustração: entusiastas sabem comparar especificações e percebem quando uma placa regional tem menos memória, largura de banda ou interconexão restrita em relação ao modelo global.

O que vem agora depende de três dobradiças. Primeira, política: qualquer mudança nos limiares de exportação redesenha instantaneamente o espaço do que é “permitido” enviar. Segunda, concorrência doméstica: quanto mais maduros os chips locais e as pilhas de software otimizadas para eles, menor o “campo gravitacional” de CUDA. Terceira, estratégia de produto: Huang aposta em uma família Blackwell sob medida para a China – suficientemente útil para data centers locais e, ao mesmo tempo, compatível com a régua regulatória. É um equilíbrio ingrato: se for potente demais, fica proibida; se for contida demais, os clientes dão de ombros.

O debate público, claro, adiciona ruído. Tem quem ironize a frase “0% na China” como hipérbole corporativa e quem leia qualquer crítica a políticas atuais como sinalização partidária. Nos bastidores, porém, o enredo é de desacoplamento estrutural: cadeias de suprimento redesenhadas, padrões técnicos regionalizados e competição estatal por autonomia tecnológica. Investidores querem previsibilidade de receita; engenheiros querem saber se otimizam para CUDA ou migram; compradores chineses desejam um roteiro estável.

No curto prazo, o canal segue fechado. Se aparecer um derivado de Blackwell aprovado, ele virá com lista de restrições: largura de banda de memória, taxas de interconexão, limites de escala por cluster. Em paralelo, fornecedores locais tentarão capturar o vácuo com ofertas mais integradas ao seu ecossistema de software. Assim, a NVIDIA não voltaria ao mercado de 2022; entraria em um mercado novo, mais competitivo e com clientes menos dependentes de sua plataforma.

Conclusão: quando Huang diz “zero”, ele descreve o presente, não o destino. A demanda na China continua enorme. Falta acesso. Entre a política e a engenharia, a NVIDIA tenta abrir de novo a porta – antes que o lado de dentro aprenda a viver muito bem sem ela.

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