Início » Sem categoria » Black Ops 7: a campanha de Call of Duty que esqueceu o jogador solo

Black Ops 7: a campanha de Call of Duty que esqueceu o jogador solo

por ytools
0 comentário 2 visualizações

A campanha de Call of Duty: Black Ops 7 tinha tudo para ser aquele velho conforto de sempre: entrar rapidinho depois do trabalho, jogar uma missão, apertar pausa quando a vida chama e continuar do mesmo ponto depois. Só que a Activision e a Treyarch seguiram por outro caminho.
Black Ops 7: a campanha de Call of Duty que esqueceu o jogador solo
Em vez de uma campanha tradicional pensada para um jogador, o modo história virou algo muito mais parecido com um modo serviço online cooperativo, cheio de regras e limitações que já estão deixando muita gente com a pulga atrás da orelha.

O pacote vem com três decisões centrais que mudam completamente a experiência: a campanha é obrigatoriamente online, não existe botão de pausa e não há checkpoints clássicos no meio da fase. Se você ficar parado por tempo demais, corre o risco de ser chutado de volta para o menu. Tradução para a vida real: uma ligação mais longa, uma emergência em casa ou aquela passada rápida no banheiro podem custar meia hora de progresso. Para um modo vendido como campanha de história, isso soa mais como restrição de jogo competitivo do que como conforto de single player.

O motivo fica claro logo nas primeiras missões. Toda a estrutura foi desenhada pensando em até quatro jogadores conectados ao mesmo tempo. Black Ops 7 permite formar um esquadrão de quatro pessoas e, quando tudo funciona direito, rola um caos divertido: cada um corre para um objetivo, inimigos vêm em ondas, há tarefas pensadas para que o grupo se divida e se coordene. O problema é que o jogo praticamente não considera quem prefere jogar sozinho, de fone desligado e sem ouvir conversa de party.

Em vez de preencher os espaços vazios com companheiros controlados pela IA, a campanha simplesmente joga tudo nas suas costas. Entra solo, trabalha por quatro. Aquela sequência em que o time deveria plantar explosivos em vários pontos ao mesmo tempo vira uma maratona repetitiva de ir e voltar sozinho. Áreas pensadas para vários jogadores cobrirem flancos diferentes se transformam em salas que parecem inchadas, com inimigos demais para uma só pessoa. O que poderia ser um modo história ágil e rejogável acaba soando cansativo quando você encara tudo sem ajuda.

A sensação de descaso com o jogador solo aumenta com o resto das decisões. Não há opções de dificuldade ajustáveis, algo que sempre foi básico em campanhas de grandes franquias. Não há salvamento intermediário confiável: caiu a conexão, o servidor engasgou ou a internet deu aquela oscilada, e o progresso da fase inteira pode ir embora. Em uma série que construiu sua reputação com campanhas cinematográficas controladas no detalhe, Black Ops 7 passa a impressão de que o modo história virou secundário no plano geral.

O lado curioso é que, quando o jogo esquece um pouco das amarras online e aposta só no espetáculo, ele entrega momentos realmente marcantes. A campanha se passa em 2035 e traz de volta David Mason, agora interpretado por Milo Ventimiglia, além de nomes como Michael Rooker e Kiernan Shipka. O tom flerta sem medo com o absurdo: chefões gigantes que parecem saídos de um looter shooter espacial, sequências psicodélicas, cenas que lembram filmes de assalto e ficção científica de alto orçamento. Em uma missão você desvia de lâminas enormes caindo pela cidade, em outra assume o controle de um iate de luxo e simplesmente atravessa a lateral de um prédio. É exagerado, às vezes cartunesco, mas sem dúvida dá variedade ao roteiro.

Para quem entra no jogo com um trio de amigos e encara a campanha como uma grande noite de co-op, essa mistura pode funcionar muito bem. Relatos de jogadores falam de risadas, caos e momentos genuinamente divertidos durante as primeiras horas. Mas mesmo nesses grupos surgem as mesmas queixas: uma desconexão derruba todo mundo de volta ao começo da missão, alguém precisa se afastar e não existe pausa, um único problema técnico transforma uma noite perfeita em repetição tediosa da mesma fase.

A questão é que tudo isso cai em cima de um público que já vem demonstrando cansaço com a rotina anual de Call of Duty. Há anos se fala que a franquia precisava respirar, experimentar outro ritmo, e não empilhar ainda mais limitações em cima de quem só quer uma campanha sólida. Transformar o modo história em um formato sempre online, com contador de inatividade e falta de respeito básico ao tempo do jogador, parece para muita gente o ponto em que a franquia finalmente atravessou a linha. Cada vez mais comentários comparam essa sensação ao momento em que muitos abandonaram outras séries esportivas ou de tiro depois de decisões parecidas.

Em paralelo, cresce a desconfiança sobre a real razão de tanto controle online. Para boa parte da comunidade, isso tem muito mais cara de ferramenta antipirataria e de forma de prender o jogador dentro do ecossistema do que de necessidade técnica ou criativa. Ninguém acredita que seria impossível ter um modo offline com checkpoints e salvamentos locais. Soa como escolha consciente. E quando a escolha da empresa recai sempre em cima do conforto de quem pagou preço cheio, a boa vontade vai se esgotando.

Resta a pergunta que acompanha quase todo novo CoD: será que dessa vez o descontentamento vira queda real nas vendas ou veremos de novo o velho ciclo de reclamações seguidas de recordes de faturamento? Se Black Ops 7 repetir a história e vender horrores mesmo com a campanha carregada de limitações, a mensagem para o mercado será clara. O risco é que as grandes produtoras entendam que dá para empurrar cada vez mais campanhas para o modelo de serviço online sem grandes consequências.

No fim das contas, a campanha de Black Ops 7 é um estudo de contraste. De um lado, um co-op cheio de cenas exageradas, elenco famoso e momentos visualmente insanos. Do outro, um modo solo que parece ter sido sacrificado em nome da filosofia do sempre conectado. Se os jogadores vão engolir mais essa ou finalmente virar a página em direção a outras experiências, sejam elas Battlefield ou projetos menores mais respeitosos com o tempo de quem joga, pode definir não só o futuro de Call of Duty, mas da forma como os grandes shooters vão tratar campanhas daqui para frente.

Você também pode gostar de

Deixe um comentário