Parecia que os teclados físicos tinham ficado no passado junto com a era BlackBerry, mas nos últimos anos essa sensação tátil voltou a ganhar espaço entre os apaixonados por tecnologia. Para muitos usuários, digitar em um teclado QWERTY real ainda é mais rápido e preciso do que deslizar os dedos sobre o vidro de uma tela. Isso não significa, porém, que o mercado de massa queira voltar para 2008. O que vemos é um nicho resistente, cheio de nostalgia e disposto a pagar para ter de volta a experiência das teclas físicas.
Um dos nomes mais ativos nesse movimento é Kevin Michaluk, criador do site CrackBerry e cofundador da capa com teclado Clicks. 
Ele lançou a campanha BringBackBlackBerry.com, pedindo o retorno oficial da marca. Ao mesmo tempo, a empresa chinesa Zinwa decidiu colocar a mão na massa e recondicionar modelos clássicos. O BlackBerry Classic (Q20) foi relançado como Zinwa Q25 Pro, enquanto o lendário Passport ganhou nova versão chamada Zinwa P26. Essas unidades recebem upgrades em processador, memória RAM, bateria e câmeras, além de trocar o sistema BlackBerry 10 pelo Android 13. A limitação: só funcionam em redes 4G LTE – nada de 5G.
O Zinwa Q25 Pro chega ao mercado por 420 dólares, enquanto o kit para quem já tem um Classic custa 300 dólares. Já o Passport, famoso por sua tela quadrada de 4,5 polegadas e design diferentão, também pode ser ressuscitado com os kits da empresa. Esse modelo sempre foi um ícone cult entre fãs, e não é surpresa que tenha voltado à cena com tanto entusiasmo.
A pesquisa recente mostra que mais de 90% dos participantes afirmam digitar melhor em teclados físicos. Isso explica o sucesso do Clicks Keyboard Case, capa que adiciona teclas reais a iPhones e Androids. Vendida a partir de 159 dólares em lojas como Best Buy ou no próprio site da marca, a solução é um meio-termo: touchscreen quando você quiser, teclado físico quando precisar digitar algo mais longo ou importante.
Mas quem busca um aparelho novo de fábrica, sem precisar de acessórios, encontra uma alternativa no Unihertz Titan 2. Inspirado no BlackBerry Passport, ele mantém a tela quadrada de 4,5 polegadas (1440 × 1440), mas com hardware atual: processador Dimensity 7300, 12 GB de RAM e 512 GB de armazenamento. O conjunto de câmeras inclui um sensor principal de 50 MP, uma lente telefoto de 8 MP e uma câmera frontal de 32 MP. A bateria de 5050 mAh promete autonomia generosa, e o aparelho conta com reconhecimento facial, leitor de digitais e suporte a dois chips. O preço: 399,99 dólares.
Será que isso tudo significa um verdadeiro retorno? Nem tanto. Embora muita gente reconheça que digita mais rápido em teclas físicas, poucos realmente querem carregar um smartphone mais robusto no bolso. Muitos usuários do Clicks notaram que, no dia a dia, sua velocidade de digitação não era melhor do que no teclado virtual. O diferencial aparece mesmo em situações específicas, como escrever mensagens longas ou listas.
O BlackBerry Passport, em especial, virou objeto de desejo no mercado paralelo. Modelos lacrados ainda na caixa são vendidos a preços altos. O sistema BlackBerry 10.3, apesar de datado, ainda rodava alguns apps Android graças ao Android Runtime, compatível com versões até o Jelly Bean (Android 4.3). Mesmo limitado, o design e a proposta única do aparelho continuam atraindo fãs até hoje.
A discussão também abre espaço para revisitar a história dos teclados virtuais. Alguns dizem que o pioneiro foi o IBM Simon, lançado em 1994, com tela sensível ao toque resistiva e teclado virtual rudimentar. Outros defendem que foi o LG Prada, de 2007, poucos meses antes do iPhone. Mas foi a Apple quem transformou o teclado virtual em padrão, enquanto o primeiro Android, o T-Mobile G1 (HTC Dream), ainda trazia um teclado físico deslizante. Só com a atualização Android 1.5 Cupcake é que o sistema ganhou um teclado virtual oficial.
Hoje, o que temos não é exatamente um renascimento em massa, mas um renascer de nicho. Zinwa com seus modelos recondicionados, a capa Clicks e o Unihertz Titan 2 mostram que ainda existe espaço para esse público fiel. O futuro das teclas físicas talvez não esteja em conquistar multidões novamente, mas em provar que design e nostalgia podem se manter vivos em paralelo ao mainstream. Afinal, certas experiências táteis não se apagam facilmente da memória coletiva.
1 comentário
sem 5G não dá, né