Quem monta ou atualiza PC gamer no Brasil vai precisar respirar fundo de novo. Depois de alguns meses em que as placas de vídeo pareciam finalmente caminhar para preços mais razoáveis, a AMD avisou seus parceiros que vai reajustar o valor de suas GPUs em, no mínimo, 10%. 
Não é um ajuste pontual em um único modelo: a mudança atinge praticamente toda a linha atual de placas Radeon, incluindo as mais desejadas da série Radeon RX 9000.
Na prática, isso significa que as placas que você vê hoje nas lojas – muitas vezes em promoção, com descontos de datas especiais ou queima de estoque – tendem a ficar consideravelmente mais caras nas próximas remessas. E, como sempre acontece em hardware, o aumento começa lá em cima, no custo de produção, mas termina no bolso do consumidor final, muitas vezes ainda mais inflado por impostos, frete, câmbio e margem dos lojistas.
O principal vilão desta vez não é exatamente a AMD, e sim o mercado de memória. Toda placa de vídeo moderna depende de chips de memória ultrarrápidos do tipo GDDR. Hoje, NVIDIA, AMD e Intel usam variações dessa tecnologia em praticamente todas as suas GPUs voltadas a games. A NVIDIA já migra alguns modelos de ponta para GDDR7, enquanto a AMD e a Intel ainda se apoiam majoritariamente em GDDR6, que por muito tempo foi o ponto de equilíbrio ideal entre custo e desempenho, permitindo lançar placas com mais VRAM sem tornar o projeto inviável.
Só que esse equilíbrio desandou. A demanda por DRAM disparou por causa da corrida no mercado de inteligência artificial. Grandes empresas de nuvem e de IA generativa estão fechando contratos gigantescos para equipar data centers com placas aceleradoras e servidores cheios de memória de alta largura de banda. Quando esses compradores garantem lotes enormes com antecedência, o que sobra para o mercado de consumo diminui – e fica mais caro. Ao mesmo tempo, diversos fabricantes de memória vinham, nos últimos anos, reduzindo ou controlando produção para evitar excesso de oferta e queda brusca de preços. Resultado: agora que todo mundo quer DRAM ao mesmo tempo, simplesmente não há folga na linha de produção.
Esse cenário pressiona diretamente o custo das placas de vídeo. Se os chips de memória GDDR ficam mais caros, o custo de cada placa sobe para os parceiros da AMD – marcas como ASUS, Gigabyte, PowerColor e outras que realmente produzem e vendem as placas que vemos nas vitrines. De acordo com relatórios do setor, essas empresas já foram oficialmente notificadas do reajuste mínimo de 10%. E o ponto crítico é que esses 10% são apenas o começo: quando essa alta passa por imposto de importação, ICMS, IPI, variação do dólar e a margem de cada distribuidor e loja, o percentual percebido pelo consumidor costuma ser bem maior.
O momento é especialmente frustrante porque a família Radeon RX 9000, baseada na arquitetura RDNA 4, estava começando a se tornar uma opção bem interessante. No lançamento, diversas placas chegaram acima do MSRP (o preço oficial de referência) por causa da combinação de novidade, estoque limitado e euforia do mercado. Com o tempo, os valores começaram a se estabilizar, e não era raro ver modelos que, em promoções, ficavam no patamar do MSRP ou até um pouco abaixo. Muitos jogadores aproveitaram esse timing para finalmente aposentar a placa antiga e migrar para algo mais moderno.
Agora, porém, o cenário se inverte. Com o aumento de custo de memória e o reajuste anunciado pela AMD, é bastante provável que as próximas levas de Radeon RX 9000 já cheguem às lojas com preço reajustado para cima, sem sequer encostar novamente no MSRP original. Quem vinha “esperando a próxima promoção” pode descobrir que a melhor oportunidade foi justamente aquela oferta que parecia boa demais para ser verdade algumas semanas atrás.
Para o consumidor brasileiro, o impacto tende a ser ainda mais sentido. O mercado local já sofre tradicionalmente com a soma de impostos elevados, custos logísticos e o peso do dólar na formação de preços. Em um contexto desses, qualquer aumento na base – principalmente em dólar – costuma ser amplificado. Um reajuste de 10% na origem pode facilmente virar 15% ou 20% na etiqueta final, dependendo da região e da política de preços de cada varejista.
Se você está planejando montar ou atualizar seu PC gamer em breve, a mensagem é clara, embora nada animadora: as placas Radeon que hoje parecem “caras, mas aceitáveis” podem se tornar “caras demais” num intervalo bem curto. Enquanto as lojas ainda trabalham com estoque comprado antes do reajuste, é possível encontrar algumas ofertas competitivas. Mas conforme esses estoques forem sendo trocados por lotes com custo novo, o espaço para descontos deve encolher bastante.
Em um panorama mais amplo, o episódio mostra como a revolução da IA afeta diretamente quem só quer jogar em paz. A mesma infraestrutura que alimenta chatbots avançados, modelos de imagem e ferramentas corporativas também consome quantidades gigantescas de memória e poder de processamento, empurrando para cima o custo dos componentes que equipam os PCs domésticos. Se a produção de DRAM não acompanhar esse novo patamar de demanda ou se o apetite por hardware de IA não diminuir, é bem possível que essa “nova fase de preços” das GPUs deixe de ser exceção e vire regra. E o aumento anunciado pela AMD pode ser apenas um dos primeiros sinais de uma era em que montar um PC gamer de alta performance volta a ser um luxo para poucos.