
Predator: Badlands chegou aos cinemas com um daqueles ganchos que fazem a sala ficar em silêncio e a internet acordar gritando. Assim que os créditos sobem, a pergunta inevitável aparece: Dan Trachtenberg está montando, tijolo por tijolo, um grande encontro ao estilo Vingadores para o universo do Predador, ou a ideia é continuar entregando filmes fechados, que se bastam, apenas salpicados de pequenas conexões? Depois do arranque histórico nas bilheterias, o debate deixou de ser nicho e virou pauta principal entre fãs, críticos e curiosos.
O que dá para ler, por enquanto, é uma estratégia muito consciente. Trachtenberg vem repetindo que cada filme precisa nascer como obra completa, com começo, meio e fim, e que qualquer ponte entre eles deve existir para ampliar personagem e tema, não para vender próximo capítulo. É uma lição da fase mais inspirada das franquias super-heroicas: primeiro faça o público se importar; só então, se fizer sentido, junte as peças. Os indícios estão lá para quem quiser caçar. Em Killer of Killers, a animação que antecedeu Badlands, vemos o lendário Dutch em criostase, literalmente guardado para um dia ser descongelado. Não é promessa vazia; é semente. Mas semente não vira floresta se for regada com pressa.
A filosofia: histórias completas, possibilidades depois
Em vez de uma teia industrial de subtramas, o diretor tem preferido filmes que se sustentam sozinhos, sem parecerem episódio-piloto de algo maior. É um antídoto contra a fadiga de universos compartilhados. Toda vez que a engrenagem falha, o público sente: a narrativa vira check-list, o clímax cheira a teaser, a experiência fica com gosto de tarefa de casa. O contrapeso de Trachtenberg é claro: se um dia houver um encontro de caçadores e sobreviventes, que ele pareça inevitável porque as jornadas levaram até ali, e não porque o calendário corporativo mandou.
As migalhas no caminho
O caminho até aqui foi deliberadamente variado. Prey reacendeu o interesse ao mudar o ponto de vista e afiar as regras do jogo. Killer of Killers ousou no formato, colocou DNA da franquia em um terreno novo e fechou com o tal plano de Dutch em gelo. Agora Badlands pisa mais fundo no acelerador: menos horror sci-fi, mais ação sci-fi ampla, com o Predador (um Yautja chamado Dek, vivido por Dimitrius Schuster-Koloamatangi) como protagonista em um rito de passagem: provar ao pai e ao clã que é digno ao caçar um monstro em um planeta-matadouro. No caminho, uma virada interessante: Dek cruza com Thia, uma synth da Weyland–Yutani interpretada por Elle Fanning, trazendo um sabor de cruzamento Alien–Predator sem ficar refém de nostalgia. A ideia não é reencenar 1987; é ampliar o vocabulário mantendo a mordida.
Na régua tonal, o norte declarado é Terminator 2: Judgment Day: crescer, emocionar e ainda assim cortar fundo. Trachtenberg mira esse equilíbrio – músculo, coração e clareza – para que veteranos se divirtam com os detalhes e recém-chegados não precisem de manual. Se um dia surgir uma grande caçada com rostos conhecidos, valerá mais porque cada peça ganhou textura antes de entrar no tabuleiro.
Bilheteria compra liberdade
Número não dita roteiro, mas compra oxigênio criativo. Predator: Badlands abriu com cerca de US$ 80 milhões no mundo (em torno de US$ 40 milhões nos EUA e US$ 40 milhões no internacional), o maior debut da saga – incluindo os Alien vs. Predator. Para comparação, The Predator (2018) começou a corrida por volta de US$ 73,5 milhões em valores atuais. Com vento a favor, a franquia pode ousar sem pular etapas.
O que um encontro teria de conquistar
Vamos admitir a hipótese: o gelo se rompe, Dutch volta ao jogo, Dek já não é promessa e Thia expõe até onde a Weyland–Yutani levaria a humanidade. Um filme-evento não pode ser apenas apresentação de elenco. Ele teria de amarrar ideias já plantadas: a ética da caça e da honra entre Yautja, a escalada de risco quando a presa se recusa a morrer, a hubris corporativa de brincar com fogo e a herança que cada personagem carrega. Dutch é a lenda teimosa; Dek, o filho pressionado por tradição e expectativa; Thia, a máscara polida do pragmatismo empresarial. Juntos, eles oferecem conflito de verdade – desde que os filmes cheguem a isso, em vez de girar em volta para posar para a foto.
O debate sobre o tom
Há uma ansiedade legítima entre fãs: a tal “disneyficação”. Parte do público torce o nariz para humor que lima o terror primordial; outra parte aceita abrir a porta para plateias maiores, contanto que a violência permaneça tátil e que a tensão não seja de mentirinha. A saída não é alternar brusco entre grim e piadinha, e sim escolher a coluna emocional de cada filme e segui-la até o fim. Badlands em geral acerta: a trajetória de Dek é sincera, e quando dói na tela, dói mesmo.
O presente vale mais que o fan casting
Mais interessante do que montar, hoje, o pôster do tal encontro, é perguntar: qual será o próximo passo realmente autossuficiente? Há trilhas promissoras – voltar a janelas históricas, mergulhar na política do espaço corporativo, encarar as consequências do rito de Dek para o clã. Vídeos de final explicado já mapearam pistas, e a comunidade até pede mudanças prosaicas (tem gente implorando por links de YouTube incorporados, porque certos players travam). O essencial, porém, continua simples: o próximo capítulo precisa se justificar sozinho, como Badlands fez.
No fim, a síntese cabe naquela frase que o próprio diretor gosta de repetir: só é legal se a jornada valer. Os acenos estão aí – sim, todo mundo viu a câmara criogênica – , mas os filmes não viraram dever de casa. Se a grande reunião acontecer, que não pareça marcação de reunião do estúdio; que pareça tempestade: inevitável porque as condições se formaram. Até lá, a missão é continuar fazendo de cada incursão pelo deserto um passeio que valha por si, com o rugido ecoando longe – e sem pressa.
2 comentários
gente, coloquem o vídeo do YouTube embedado pq esse player trava demais
por favor sem Predador family friendly kkk. curti o filme, mas quero sentir o perigo de novo 😅